maio 10, 2011

Capitulo XXIV

Alexandra, no cimo da montanha, que era sua vida, fez um resumo de tudo o que viveu, dentro dessa utopia que já durava há vinte e dois meses. Algumas das pessoas, poucas e as mais próximas, passaram também a ser amigos na vida real. Pois a amizade só é válida e verdadeira para quem a partilha e a merece, tal e qual como diz o ditado: Existe algo que quanto mais dás, mais recebes e essa coisa chama-se amizade, nascida do amor, que se divide em várias maneiras de demonstrar a verdade dos sentimentos.

Viveu um pouco de tudo, conheceu, algumas pessoas que lhe mostraram outra maneira de encarar o futuro, talvez, mais liberto mas mais preocupante. Lembra-se de quando pensou desistir, mas também na sua teimosia, que lhe deu coragem e nunca a deixou renunciar. Nos muitos conhecimentos que fez mas que se apagaram logo, ou pouco tempo depois. Pensou também naqueles que duraram vários meses, e alguns ainda duram.

Revive, na sua memória, a relação que viveu com Combi, da amizade que ia crescendo entre eles. Por vezes mais carinhosa, outras vezes mais distante e fria, mas o importante é que continha a sua verdade, porque era a realidade que comandava os sentimentos. Sentiu receio e achou graça, também, quando ele lhe pediu em casamento, num outro avatar pois ele possuía vários.
Teve pena, porque essa relação acabou de um modo tão repentino e trágico, mas era assim… Apesar desse grande desentendimento, era uma óptima pessoa e um bom amigo. Passou por outras amizades, igualmente instáveis, mas que viveram para sempre, na sua memória e no seu coração.
Alexandra continua convicta de que valeu e vale a pena entrar nesse mundo, nessa plataforma de comunicação ou nesse jogo, como muitos lhe chamam e ela discorda. É que esse programa, a SL, além de conter maravilhosas paisagens, tiradas da realidade, possui um excelente meio de comunicação, vindo dos quatro cantos do mundo. Mas falando de paisagens reais ela recorda-se de quando Ilária a convidou para ficar a conhecer a Catedral de São Francisco de Assis. Realmente estava tudo lindamente bem reproduzido.
 

Com Ilária na catedral

Bertrand continua a ter um papel importante seja na sua vida virtual ou real. Porque além de lhe escrever um postal, de amizade, sempre que viaja, está constantemente atento a alguma novidade, sobre o seu problema de saúde.
Aprendeu inclusive que a amizade, se assim se podia chamar, para alguns, não passava daquele instante. Ali dentro, era mesmo um mundo dentro de outro mundo, uma vida de sonhos, onde tudo é possível e onde se cruzavam com milhões de pessoas. Havia de tudo e para todos os gostos, desde as fantasias sexuais a paisagens lindas, tiradas da realidade, passando pelas construções.
Recorda-se lindamente de quando meteu conversa com Michel, o seu actual marido, na SL, e o único, dizia-se ela. Sim, porque foi e continua a ser a pessoa que lhe tocou no coração, aquela que soube ver, avaliar, sentir e apreciar o mais importante. Pouco a pouco, a amizade crescia entre eles, por vezes Alexandra dizia-se que não permitiria misturar os sentimentos, mas isso era impossível, pois eram os mesmos. Gostavam imenso de conversar, um pouco de tudo e dividir as ideias, mesmo as da vida real. Muitas vezes, quando um deles começava uma frase o outro terminava-a e então riam-se dizendo-se que tinham as mesmas ideias e os mesmos sentimentos.

Foi somente no segundo Natal que trocaram seus contactos reais, onde ele lhe enviou um presente, um simples colar com uma medalhinha, o símbolo da SL. Uma prenda simples mas com um grande significado, e que Alexandra agradeceu com este poema :

SL: Seulement Lumière

Seul L'amour fait revivre la douceur des sentiments, même celles qui étaient caches au fond de mes fantaisies, se sont éveillées...
Un jour, quand je me promenais dans mon rêve, auprès des nuages, je t'ai aperçu et je me suis laisser hypnotiser par ton coeur...
Si La douceur, qui entoure les mots du silence, remet de la lumière dans nos regards, même si on ne le verrat jamais, n'ai pas peur, car les paroles ne se gâchent pas...
Notre histoire est trés belle et simples, car c'est dans la simplicité qu'on trouve la beauté des sentiments et les fera toujours grandir...
Si L'amour habite nos coeurs et entoure nos émotions, alors laissons-les vivre enlacées par la ficelle de l'amour, même si nos mains ne se toucherons jamais nos coeurs dirons toujours je t'aime...

Quase toda a gente que ela conheceu, trabalhava dentro da SL, ou seja, tinha um emprego, e desse modo tinha dinheiro. Embora isso fosse o seu último interesse, talvez porque nunca precisou, sempre conseguia o essencial. Sabia que existiam algumas maneiras de ganhar dinheiro.
Mas foi só agora, depois de tantos meses que resolveu experimentar, não que precisasse, mas por curiosidade, além de estar interessada, nunca era demais ganhar alguns trocados. Assim foi, a pintar um quadro, ou melhor a imitar, no qual ela ganhava dois “Linds” cada dez minutos. Era isto que se chamava ”camping”, uma maneira de ganhar dinheiro entre tantas outras.

Ensinou e ainda ensina alguns novatos que, também, como ela no princípio, desconhecia completamente esta segunda vida. Pois todos os dias se aprende alguma coisa, seja na vida real ou na fictícia.

Continua a manter com Nyne uma relação de amizade sincera, de irmã mais nova, partilhando um pouco de tudo, ao ponto de os filhos da mesma a chamarem de tia, claro que ela se orgulha disso.
Não se arrepende, de nada, que viveu e continua a viver, mesmo as desilusões nos ajudam, dentro desse programa. Uma maneira de preencher esta vida com mais optimismo, porque chatices, decepções e tristezas toda a gente as contém e em qualquer ocasião. Por tudo isso, vamos habitar no presente, e aproveitá-lo, o melhor possível, a frustração que pode causar é: Querer nascer de novo.

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