maio 10, 2011

Capítulo III

Duas tardes depois, sendo o último dia da semana, quando eles chegaram, Alexandra tentou mostrar-se indiferente, mas, no fundo, o bichinho da curiosidade já tentava romper o véu do impedimento. Ela estava consciente desse facto, mas ainda se recusava a aceitar essa ilusão.

Ele levou-a a passear, de barco e num objecto voador por entre as nuvens, o que não deixava de ser engraçado, curioso e agradável. Porém, sem querer despertar o lado “adormecido” da sua curiosidade, dizia-se constantemente:
- Isto, não é mais que uma brincadeira, é apenas mais um jogo ou um passatempo para quem não tem mais nada que fazer, nem o que pensar. Não é para mim, que já considero, esta minha vida demasiado pesada...

Alexandra, nesse fim de tarde e, depois de abrir o computador, fixou o símbolo bem visível da “Second Life” (abreviadamente: “SL”) e sentiu uma grande vontade em experimentar, passear um pouco nesse universo fantástico. Além de ainda pouco ou nada saber, a curiosidade de sentir essa nova experiência já não a largava.
Agora, que estava sozinha, deixou o interesse apoderar-se dela e a mão seguir na direcção do cursor, onde clikou ou pressionou duas vezes seguidas, para abrir a “porta” e entrar num “mundo” ilusório, belo e desconhecido.
Acordou ou “renasceu” exactamente no mesmo jardim, onde estivera algumas horas antes na companhia do seu “informador”, professor e actual amigo na “SL”.

Era a mesma paisagem que crescia, lenta e maravilhosamente, defronte dela e, pouco a pouco, tornava-se visível, a qual ela apreciava novamente. Também, mais à frente, via-se nitidamente a praia onde já tinha estado, com o seu amigo e, também, onde ele lhe ensinou a praticar, skateboard.
Alexpinheiro avançou embelezada por essa natureza. Nesse lugar contemplava-se e ouvia-se nitidamente o som da água que embatia nas rochas e, alegremente, ambas cantavam felizes por sentirem a liberdade. Viam-se os golfinhos e peixinhos a saltitar e mergulhar à sua frente. Ela reparou que não estava só: havia diversas imagens, ou seja, várias pessoas “on-line” no espaço que a câmara do seu computador alcançava.
Era uma sensação estranha e diferente, agora que estava sozinha, talvez mais liberta mas também mais desamparada, sem poder contar com nenhuma ajuda.

Sentiu que chegara a altura de começar a explorar melhor a função de cada tecla. Mas tinha receio, porque a facilidade de estragar estava bem presente. Por isso era preferível não mexer sem ter a certeza. Foi prosseguindo cuidadosamente, fazendo somente o que achava seguro, pois, preferia avançar devagar mas com toda a firmeza e confiança possível. Existiam milhares de funcionalidades e centenas de opções dentro daquela pequena caixa. Assim, novas ocasiões de as descobrir não faltariam, pois, as maiores dificuldades encontram-se sempre ao princípio do caminho.

Sim, porque embora fosse a imagem de uma boneca escolhida por ela, dentro do computador, tudo era controlado por si, ou seja, as decisões, as escolhas, as resoluções ou os problemas enfim, os sentimentos seriam exactamente os mesmos, embora com algumas formas diferentes de os exprimir.
Alexandra, no seu esconderijo, estava decidida em explorar e descobrir tudo o que a aguardaria por trás dessa janela, que lhe fora mostrada.
Com o seu bikini cor-de-rosa, Alex avançou sobre a paisagem que a cercava. Ela continuava descalça mas não importava, pois caminhava sobre uma praia e em direcção ao mar. Era uma sensação maravilhosa andar sobre a areia quente e húmida, algo de que ela ainda se lembrava perfeitamente.
A cada passo que dava, na direcção do mar, a água cobria-a e ficou, pouco a pouco, completamente encoberta pela mesma. Sorriu quando se viu a caminhar debaixo daquela água tão transparente e pensou que afinal nada a controlava a não ser a própria.
Era engraçado, óptimo, curioso e agradável, ao mesmo tempo que pensava:
- Se na vida real houvesse a mesma facilidade, aquela de não existir nenhuma barreira, principalmente física, onde nos pudéssemos evadir da rotina diária e, facilmente, entrarmos no nosso imaginário com todas as nossas vontades. Sem nos deixarmos contaminar pelo negativismo da vida real ou, até mesmo, pelas sensações fictícias, ansiadas e desconhecidas... Todavia, todos os sentidos continuam, a florescer, dentro de nós.
Nas profundezas desse mar, conforme caminhava lentamente, deparou-se com algumas casas e plantas. Então sorriu, mais uma vez para si, ao lembrar-se do pouco que já vira e também do que iria ver ainda, caso quisesse continuar com esta exploração. Existirem plantas aquáticas, areia e rochas, coisa normalíssima, mas casas e automóveis só mesmo ficção!...
Após avançar um pouco mais nesse recente mundo, achou melhor desistir, pelo menos por esse dia. Pois, já estava na hora de se recolher, para o vale dos lençóis, mas permanecia constantemente na indecisão de seguir em frente. Dependendo de terceiros, ela fazia, sempre, os possíveis para cumprir as regras da casa.
Gostando ou desgostando e sem ter outra alternativa, infelizmente, era esta a sua vida real.

Na vida, tudo faz sentido, mesmo aquilo que nos recusamos aceitar…

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