maio 10, 2011

Capítulo I

Estávamos no meio do Verão, no final de uma manhã quentíssima e calma, mas que no fundo, se tornava incomodativa. Era a tarde de uma segunda-feira, como tantas outras.
Continuávamos em pleno mês de Agosto e, como era normal nessa época, o tempo permanecia demasiado quente e abafado. Embora também nublado, por causa do imenso fumo existente.
Um ligeiro cheiro a queimado, que provinha dos imensos fogos por todo o país, encerrava ainda mais esse sopro quente. O qual se fazia sentir um pouco por todos os lados.
Alexandra, na sua blusa de alças cor-de-rosa e calções de ganga, de um azul-escuro, depois de entrar na pequena sala, onde permanecia o seu computador juntamente com outros dois, da casa, dirigiu-se imediatamente, empurrando a sua cadeira de rodas, para a abertura que ali permanecia.
Quando alcançou o trinco da única janela, dessa sala, e depois de fazer um pequeno esforço para a abrir, respirou fundo, pois ainda pairava no ar um pequeno cheiro de tinta fresca. O qual se tornava insuportável com aquele bafo quente.

Alexandra curvou-se um pouco para a frente, com a única intenção de sentir a suave e leve brisa no seu corpo suado. Aquele mesmo ar que, embora abafado, não deixava de ser gratificante. Também o mesmo que, indesejavelmente, colava o seu físico ao tecido um pouco áspero da sua cadeira de rodas, provocando-lhe, infelizmente, um grande desconforto.
Sorriu para si mesma, ao lembrar-se do comentário ouvido pouco tempo antes. Agora, com os seus quarenta anos, era chegada a altura de regressar à sua adolescência… Ou, provavelmente, a de reaver, os momentos que deixou escapar, sem desfrutar da altura certa nem do privilégio, nem mesmo das possibilidades, de os agarrar.
Uma segunda vida esperava por ela, ou melhor, uma outra forma de encarar o futuro com novas oportunidades. Expectativas, ilusões e até mesmo descobertas viriam ter com ela, e Alexandra continuaria ali para as albergar, respeitar e descobrir, mas questionava-se, constantemente, se seria bem assim…
Embora Alexandra achasse interessante esses novos desafios, a notícia, porém, não a deixou minimamente interessada. Não, não era agora que aceitaria uma novidade totalmente desconhecida em todos os aspectos, dizia-se ela convicta em recusar. Porque, embora ela soubesse que estamos sempre a aprender sentia-se bastante desiludida e triste com a vida. Sabia também que nada nem ninguém tinha a culpa da situação em que se encontrava. Sim, pois qualquer pessoa está sempre sujeita a alguma coisa, em quaisquer circunstâncias e, muitas vezes, quando menos se espera…

À hora anunciada chegaram as pessoas previstas, algumas das quais eram já suas conhecidas. Pertencentes à empresa que a ajudara a adquirir o computador portátil, algo deveras ambicionado por ela. Pois Alexandra adorava escrever e esse desejo tornar-se “possível”, ou seja, muito mais fácil de concretizar, com a ajuda necessária. Porque, ao saber que uma parte do seu sonho poderia ser realizável, já se considerava plenamente satisfeita.
Ela também era conhecedora que, embora a vida lhe tivesse fechado a porta principal, em algum lugar existiria uma janela à espera de ser aberta. Alexandra sentia-se competente e corajosa para procurar esta oportunidade de dar um rumo, o mais positivo possível ao destino, que embora fosse intolerável, era o seu.
Eles puseram de imediato o projecto em movimento: queriam dar a conhecer uma nova forma de vida ou, talvez, fazer despertar o interesse por uma outra maneira de encarar o futuro, ou até mesmo de o saborear mais docilmente.
O primeiro pensamento de Alexandra quando viu o conteúdo daquela pequena caixa foi: para que quero eu uma segunda vida se a que tenho me é mais que suficiente?
Sim, para quem tem uma linha de vida repleta de altos e baixos, cheia de pontos de interrogação e demasiado séria, não é fácil aceitar a ficção ou, talvez, o outro lado do sonho. Aquele onde tudo é fácil e possível e onde não existem pesadelos nem barreiras para fantasiar, mas única e simplesmente ilusões para descobrir…
A curiosidade de Alexandra tentou despertar quando se deparou com o conteúdo da maleta posicionada à sua frente. Como era possível algo tão pequeno conter tanta coisa? Numa única tecla existiam milhares de funções e cada função continha centenas de utilidades diferentes!

Mas quando, logo de seguida, Alexandra viu o desenrolar daquele “programa”, que mais parecia um filme em banda desenhada, onde os protagonistas, os actores e os dirigentes eram comandados pela mesma e única pessoa, foi aí que achou que o seu interesse se queria mostrar, pois nada tinha a perder, pensava ela. Para quem já perdera o mais importante da vida, ou seja a saúde, todo o restante permanecia secundário…
Sim, talvez, ela ficasse só a ganhar novas formas e oportunidades de encarar a realidade e, ao mesmo tempo, enriquecê-la um pouco mais. Possivelmente encontrasse outras opções, expectativas, descobertas, amizades e conhecimentos, pois nunca é tarde para aprender, nem mesmo ensinar…
Mas, apesar de tudo, Alexandra não encontrou grande motivação nesse novo e fantástico mundo, ou unicamente não queria deixar-se comandar por algo diferente. Porque no fundo, já era comandada por alguma desigualdade…

No final do primeiro dia da semana alguém lhe perguntou qual a sua opinião sobre o que acabara de ver e, também, se estava preparada para receber uma segunda vida. Pergunta à qual ela respondeu com outra pergunta e um sorriso:
- Não deixa de ser interessante esta outra face da vida, mas para que desejo eu uma segunda existência, se aquela que me foi destinada me preenche completamente?!
A lógica permanecia, mas a dúvida estava à espreita. Porque não tentar esta oportunidade? Dizia ela, ao mesmo tempo que continuava o seu comentário:
- Claro que ninguém é igual e ainda bem, senão esta vida seria ainda pior e mais severa. As opiniões dividem-se, os sentimentos variam e os pensamentos partilham-se. Mas, no fundo, se formos a analisar bem as coisas, fica unicamente a parcela da amizade e a carência de comunicar com os outros, ou mesmo a necessidade de sermos ou sentirmos um aconchego.
A curiosidade que teimava em querer abrir a porta ao interesse já se fazia notar, mas Alexandra recusava querer asilar a aposta de abrigar mais uma novíssima possibilidade: aquela de lembrar que da ilusão e do sonho também se vive. Ou, única e simplesmente, imaginar as oportunidades que não tiveram a sorte (e quem sabe se o infortúnio) de as agarrar no tempo adequado.

Alexandra interrogava-se, com a dúvida a querer mostrar-se: Sim, porque não tentar? Nada me impede e, pelo menos, seria uma forma de agradecimento ao empenho deles, em quererem adicionar um tempero mais dócil a esta vida, que, na maioria das vezes, se torna deveras amarga.
Como tudo pode ser possível, basta nós dar-mos asas a nossa imaginação, ou nascermos novamente num mundo ilusório. Para ter essa possibilidade, eu queria nascer de novo.
No final dessa mesma tarde Alexandra fez um resumo de tudo o que vivera, nesse primeiro dia, na nova oportunidade que se estava abrindo à sua curiosidade e à sua capacidade de enfrentar o dia de amanhã.

Efectivamente é algo que depende só de nós e da nossa maneira de encararmos o futuro e, obviamente, também da decisão de agarrarmos as opções que nos foram e serão sempre oferecidas.
Alexandra sem querer acolher a pouca diferença positiva, que já sobressaía involuntariamente e se estendia à sua frente, achou melhor dormir e não pensar mais nesse assunto. Pois, outros dias, talvez melhores, estariam para vir.

Se os sonhos ajudam a viver, não os aprisiones para a realidade, transformando-os em pesadelos…

Capítulo II

Na tarde do terceiro dia, ou seja, na quarta-feira, dessa mesma semana, como prometido e à hora marcada, regressaram os promotores do novo projecto “recrear”. O desinteresse de Alexandra, apesar de ainda continuar, já possuía uma pontinha de apetite para desvendar algo mais.
Então, deixando de resistir e mostrando-se um pouco mais receptiva, aceitou esse primeiro desafio. Alexandra queria “dar a si própria” a possibilidade de experimentar até onde chegava o seu interesse e a sua coragem: estamos pois, constantemente em tempo de aprender, seja de que maneira for, dizia-se constantemente…
- Com que nome desejas baptizar a tua própria representação ou, melhor, o teu “Avatar”? Podes inventar a alcunha de um outro nome, se o preferires. Ninguém é obrigado a dizer a verdade.
Assim, viu-se ela, inesperadamente, confrontada com esta pergunta e à qual respondeu imediatamente, com um sorriso e num tom de brincadeira:
- Pode ser Alex, pois é o diminutivo do meu verdadeiro nome, além de Pinheiro. Também, para as vezes que tenho intenção de lá entrar, chega-me perfeitamente. Prefiro não mentir e depois se conseguir levantar voo já me considero satisfeita.


Após escolhida, a futura imagem, ela sentiu a liberdade de comandar os primeiros passos da sua ”segunda vida”. E, assim, com gosto aventurou-se, seguindo atentamente as instruções da pessoa que permanecia ao seu lado: carregava numa tecla e avançava, carreg ava numa outra e recuava, mais uma e levantava voo e, assim, sucessivamente.

Mas Alexpinheiro achava-se esquisita, ali dentro, com uma aparência feia, sem personalidade, aspecto nem cor, mas dizia que também era o menos grave. Porque a aparência, física, era o que menos importava, fosse ali dentro ou noutro lugar. Quando ele lhe propôs mudar o tom de pele, ela ficou um pouco mais vaidosa, feminista e até com mais confiança nela própria. Apesar de ter escolhido uma pele normal e simples, sentia-se mais optimista e de feições mais perfeitas.

O “Professor”, como ela lhe passou a chamar, após ter instalado o programa dentro do seu computador, levou-a às compras e deu-lhe a oportunidade de escolher um pouco de tudo: desde a cor dos olhos às roupas. E, achando essa experiência interessante, deixou-se contaminar…
Pouco depois, sempre dentro do programa, ele chamou-a, ou melhor deu-lhe “TP” (tele-transporte). “Tele-transportou-a” para um maravilhoso jardim, feito em três dimensões. Não deixava de ser lindo: parecia verdadeiro com flores e cores perfeitas. Viam-se as borboletas a voar, ouviam-se os passarinhos a cantar optimamente e até o vento, algo invisível, acariciava as folhas das árvores.

Alexandra gostou de experimentar o que sabia ser irreal, ou somente ficção. Sabia também que, por trás de cada imagem, havia sempre alguém que a comandava, existia sempre um ser humano, com todos os seus defeitos, virtudes, sonhos e qualidades.
Igualmente, com todos os seus sentimentos, fossem eles bons ou menos bons, suas mentiras ou verdades, mesmo, como aquelas, escondidas ou vividas na obscuridade, mas com as emoções comandadas constantemente pelo coração.

Nessa noite, depois do jantar e como era seu costume, Alexandra refugiou-se na pequena sala defronte ao seu computador. Pois era o seu lugar preferido, aquele onde se deliciava a escrever com a inspiração e a tranquilidade adequadas. Além de ser um dos poucos sítios habitados pela paz era onde podia escrever sossegada, quer fossem pensamentos, poemas, pequenas histórias ou até mesmo, certos romances os quais, infelizmente, nunca veria editados, só porque não tinha fama, nem possibilidades económicas e muito menos a saúde vivendo nela...
Sim, na localidade onde residia, já sendo o seu lar, era realmente complicado descobrir momentos e locais de descontracção, embora isso parecesse possível, a complicação permanecia. Porque o que parece muitas vezes não é, e o que na realidade é, certas vezes passa despercebido…. Mas a única certeza existente nesta vida, é que tudo permanece incerto.
Infelizmente, os vários e constantes gritos provinham dos muitos tipos de doenças das pessoas que lá existiam. Os mais variados problemas encontravam-se ali, desde doenças físicas às doenças mentais. Havia também quem tivesse a pouca sorte de possuir um pouco das duas, algo dificilmente controlável.
Sem que ninguém tivesse a culpa de nada, os bramidos e gemidos porém, estavam constantemente presentes. Porque, embora, todos nós estivéssemos ali para sermos ajudados, também nos encontrávamos lá para ajudar em tudo o que pudéssemos. Pois não existe ninguém no mundo que não necessite de ajuda, ou algum tipo de apoio, seja ele físico ou psíquico.
A maioria das pessoas vêem os deficientes como sendo todos iguais, mesmo sem tentarem compreender as diferenças, sim, porque elas existem embora, por vezes, invisíveis à primeira vista. Qualquer pessoa, por menos que queira, é portadora de, algum tipo, de deficiência, mais ou menos visíveis, com necessidades, maneiras e gostos diferentes mas sempre presentes…

Uma rosa sem espinhos, nunca será uma rosa verdadeira, por isso, o destino para ser válido tem que possuir espinhos…

Capítulo III

Duas tardes depois, sendo o último dia da semana, quando eles chegaram, Alexandra tentou mostrar-se indiferente, mas, no fundo, o bichinho da curiosidade já tentava romper o véu do impedimento. Ela estava consciente desse facto, mas ainda se recusava a aceitar essa ilusão.

Ele levou-a a passear, de barco e num objecto voador por entre as nuvens, o que não deixava de ser engraçado, curioso e agradável. Porém, sem querer despertar o lado “adormecido” da sua curiosidade, dizia-se constantemente:
- Isto, não é mais que uma brincadeira, é apenas mais um jogo ou um passatempo para quem não tem mais nada que fazer, nem o que pensar. Não é para mim, que já considero, esta minha vida demasiado pesada...

Alexandra, nesse fim de tarde e, depois de abrir o computador, fixou o símbolo bem visível da “Second Life” (abreviadamente: “SL”) e sentiu uma grande vontade em experimentar, passear um pouco nesse universo fantástico. Além de ainda pouco ou nada saber, a curiosidade de sentir essa nova experiência já não a largava.
Agora, que estava sozinha, deixou o interesse apoderar-se dela e a mão seguir na direcção do cursor, onde clikou ou pressionou duas vezes seguidas, para abrir a “porta” e entrar num “mundo” ilusório, belo e desconhecido.
Acordou ou “renasceu” exactamente no mesmo jardim, onde estivera algumas horas antes na companhia do seu “informador”, professor e actual amigo na “SL”.

Era a mesma paisagem que crescia, lenta e maravilhosamente, defronte dela e, pouco a pouco, tornava-se visível, a qual ela apreciava novamente. Também, mais à frente, via-se nitidamente a praia onde já tinha estado, com o seu amigo e, também, onde ele lhe ensinou a praticar, skateboard.
Alexpinheiro avançou embelezada por essa natureza. Nesse lugar contemplava-se e ouvia-se nitidamente o som da água que embatia nas rochas e, alegremente, ambas cantavam felizes por sentirem a liberdade. Viam-se os golfinhos e peixinhos a saltitar e mergulhar à sua frente. Ela reparou que não estava só: havia diversas imagens, ou seja, várias pessoas “on-line” no espaço que a câmara do seu computador alcançava.
Era uma sensação estranha e diferente, agora que estava sozinha, talvez mais liberta mas também mais desamparada, sem poder contar com nenhuma ajuda.

Sentiu que chegara a altura de começar a explorar melhor a função de cada tecla. Mas tinha receio, porque a facilidade de estragar estava bem presente. Por isso era preferível não mexer sem ter a certeza. Foi prosseguindo cuidadosamente, fazendo somente o que achava seguro, pois, preferia avançar devagar mas com toda a firmeza e confiança possível. Existiam milhares de funcionalidades e centenas de opções dentro daquela pequena caixa. Assim, novas ocasiões de as descobrir não faltariam, pois, as maiores dificuldades encontram-se sempre ao princípio do caminho.

Sim, porque embora fosse a imagem de uma boneca escolhida por ela, dentro do computador, tudo era controlado por si, ou seja, as decisões, as escolhas, as resoluções ou os problemas enfim, os sentimentos seriam exactamente os mesmos, embora com algumas formas diferentes de os exprimir.
Alexandra, no seu esconderijo, estava decidida em explorar e descobrir tudo o que a aguardaria por trás dessa janela, que lhe fora mostrada.
Com o seu bikini cor-de-rosa, Alex avançou sobre a paisagem que a cercava. Ela continuava descalça mas não importava, pois caminhava sobre uma praia e em direcção ao mar. Era uma sensação maravilhosa andar sobre a areia quente e húmida, algo de que ela ainda se lembrava perfeitamente.
A cada passo que dava, na direcção do mar, a água cobria-a e ficou, pouco a pouco, completamente encoberta pela mesma. Sorriu quando se viu a caminhar debaixo daquela água tão transparente e pensou que afinal nada a controlava a não ser a própria.
Era engraçado, óptimo, curioso e agradável, ao mesmo tempo que pensava:
- Se na vida real houvesse a mesma facilidade, aquela de não existir nenhuma barreira, principalmente física, onde nos pudéssemos evadir da rotina diária e, facilmente, entrarmos no nosso imaginário com todas as nossas vontades. Sem nos deixarmos contaminar pelo negativismo da vida real ou, até mesmo, pelas sensações fictícias, ansiadas e desconhecidas... Todavia, todos os sentidos continuam, a florescer, dentro de nós.
Nas profundezas desse mar, conforme caminhava lentamente, deparou-se com algumas casas e plantas. Então sorriu, mais uma vez para si, ao lembrar-se do pouco que já vira e também do que iria ver ainda, caso quisesse continuar com esta exploração. Existirem plantas aquáticas, areia e rochas, coisa normalíssima, mas casas e automóveis só mesmo ficção!...
Após avançar um pouco mais nesse recente mundo, achou melhor desistir, pelo menos por esse dia. Pois, já estava na hora de se recolher, para o vale dos lençóis, mas permanecia constantemente na indecisão de seguir em frente. Dependendo de terceiros, ela fazia, sempre, os possíveis para cumprir as regras da casa.
Gostando ou desgostando e sem ter outra alternativa, infelizmente, era esta a sua vida real.

Na vida, tudo faz sentido, mesmo aquilo que nos recusamos aceitar…

Capítulo IV

A sua vida real continuava ali, sempre presente e repleta de momentos vazios, que eram demasiado complicados...
Mas, embora Alexandra continuasse consciente desse facto, também desejava encontrar algo desigual, novo e recente, algo que a ajudasse a descobrir o sentido positivo desta vida. Não, não podia deixar passar mais esta oportunidade, esta oferta do destino, pois sempre gostou de experimentar a novidade. E agora com a coragem, vontade e optimismo de continuar esse caminho, tudo ficava muito mais acessível. Pensou também na possibilidade que se abria à sua frente e que a levaria a algum lugar, graças às novas descobertas da tecnologia.
– Mas seria bem assim? Questionava-se ela, ao mesmo tempo que fazia a comparação…
E, nesse fim de tarde, continuou novamente e confiante, o caminho que Alexpinheiro, a sua “avatar”, tinha iniciado.

Os pouquíssimos conhecimentos ou “contactos” que ela já tivera, como os do “professor” e pouco mais, permaneciam “offline”. Pois ela ainda pouco sabia, por não ter prestado a atenção devida ao que lhe fora dito ou explicado, simplesmente porque nessa altura se mostrou desinteressada.
Sim, os nossos erros só servem para nos ensinarem, no momento certo, e junto deles descobrirmos a melhor maneira de nos desenvencilhar. Por isso não iria desistir agora, justamente quando se via perdida e sem o conhecimento necessário para dar o próximo passo, mas Alex sentia-se apta para descobri-lo. Sairia sim, mas num momento vitorioso e quando ela própria o desejasse.
Haveria de descobrir uma maneira viável, de se interessar por este programa, pois ele continha a sua verdade.

Na tarde seguinte o processo foi exactamente o mesmo e Alexandra continuava perdida. Engraçado e também curioso estar perdida numa caixa tão pequena! Então, dizia-se que, afinal de contas, ela estava ali para aprender… Porém, neste momento, sentia-se ainda um pouco abandonada e vazia, isto graças ao pouco interesse anteriormente manifestado, pois só se aprende ao fazer com que todos os possíveis sejam validos e ao enfrentar qualquer tipo de circunstância.
Alexandra interrogava-se, dizendo: para uma pessoa que se mostrara indiferente e sem vontade de experimentar este novo universo, a culpa era só sua pelo pouco que ainda sabia, mas a vontade de querer saber mais já permanecia bem presente.
Os dias seguintes foram idênticos ou quase, Alexpinheiro continuava sem saber o que fazer, tudo era estranho e desigual, por vezes pensava desistir, mas o desejo de seguir em frente já era bem visível: ela entrava mas saia alguns minutos depois. Além de se sentir perdida achava que não havia lugar para ela naquele mundo, mas, mesmo assim, tentaria. Pois a futura possibilidade de encontrar alguém estava sempre à espreita.

Os dias e as noites passavam quase iguais, e a tarde de mais um dia, de calor, regressava. Alexandra, após ter escrito um pouco sentiu vontade de “refrescar as ideias” e mergulhar novamente nesse recente
mundo.
Então, com a curiosidade e o optimismo à flor da pele, fez o mesmo procedimento dos dias anteriores, e eis que “renasceu”, exactamente no mesmo local onde tinha deixado o seu “avatar”, ou seja, no fundo do mar.
Alex continuava em bikini e cabelo cor-de-rosa. Embora fosse esquisito, como cor de cabelos, fora a cor escolhida por ela, pois, além de ser uma das preferidas, era deveras invulgar.
Viu que estava completamente sozinha, dado não haver nenhum sinal que indicasse que outras “pessoas” estivessem ligadas a esse programa.
- Ah ah claro que ninguém gostaria de estar neste lugar, no meio do nada, dizia ela para si mesma.

Sentiu novamente a curiosidade em querer explorar um pouco mais desse novo mundo, mas achava-se completamente perdida. Embora permanecesse debaixo de água, era como se estivesse no meio do deserto e sem saber o que fazer, nem para onde seguir. Porque apesar de não se encontrar ali fisicamente, permaneceria lá emocionalmente e inclusive com todos os sentimentos.
Depois de respirar fundo, carregou na tecla de voar e levantou voo, subindo por cima do mar e das nuvens. Era um espaço totalmente vazio, onde ao fundo se via o pôr-do-sol maravilhoso com algumas estrelas, um pouco mais distante.
Achando-se completamente liberta e a flutuar foi voando no vazio desconhecido. Sentiu vontade de encontrar alguém e de comunicar com a pessoa que estivesse por trás de algum “avatar” que Alexpinheiro encontrasse. Sendo assim, ela travaria um primeiro conhecimento, algo bastante ansiado.
Mas avançando completamente no vazio e sempre acelerando, sem saber para onde ir, Alex continuava em grande velocidade, mas só ouvia o barulho que o vento fazia ao passar por ela e ela por ele. Era uma sensação de total liberdade... Só lá ao fundo continuava o pôr-do-Sol, que ia mudando, pouco a pouco, a sua tonalidade escurecendo e cedendo o seu lugar à Lua.

Chegava a hora, mais uma vez, de se desligar da sua segunda vida, que ainda era desconhecida, e se recolher, para o lugar de sempre, o seu quarto. Para descansar mais uma noite, de um dia recheado de vazios inexplicáveis, mas que ela arranjava, constantemente, alguma maneira de os preencher.

“Ninguém é igual a ninguém e todos nós somos seres únicos com as nossas virtudes e defeitos. São expressões bem conhecidas e verdadeiras. Sejam as diferenças grandes ou pequenas, as qualidades melhores ou piores, mas sempre existe a necessidade de demonstrar e viver com amor.

Capítulo V

Mais uma segunda-feira chegava ao fim, pois já fazia duas semanas que não sabia absolutamente nada, das pessoas que lhe abriram o apetite por esta nova possibilidade.
Ela tinha curiosidade de saber qual o verdadeiro motivo desse afastamento ou o porquê deles desistirem daquilo que começaram, mas, no dia seguinte soube a razão:
Eles haviam cancelado esse projecto, simplesmente porque não acharam ninguém naquela casa que correspondesse aos seus objectivos. Ou, talvez, encontrassem somente o desinteresse na única pessoa capaz de o cumprir, ou seja ela.
Deste modo, Alexandra ficou sabedora da verdade. E, um pouco decepcionada, seguiu em direcção ao seu sítio preferido. Assim, desiludida consigo própria refugiou-se junto do seu computador. Pois era o local onde se sentia melhor, apesar de todas as suas frustrações, pensou um pouco em tudo aquilo, afirmando: Simplesmente porque não se mostrou suficientemente interessada em fazer parte desse mundo, iria, assim, perder essa maravilhosa sensação da descoberta?!
Após essa desagradável noticia e, sem duvidar mais, resolveu: - Tudo está nas minhas mãos, o dar asas ao meu sonho só depende de mim!...

Acelerava, errante no vazio, mesmo sem ver nenhum sinal de nada nem ninguém. Avançava cada vez mais rápido e tentava acalmar um pouco a sua revolta. Nesse seu caminho solitário, onde o nada permanecia, ela continuava, quando se deu conta que tinha perdido as roupas e o cabelo.
Então, sorrindo para si própria, deixou de voar e obedecendo à sua primeira reacção, foi descendo muito devagar por cima do mar, afundando-se naquilo que parecia água e, poisando debaixo dela, dizia-se em pensamento:
- Ah, ah, ah… se alguma pessoa me visse agora nesta linda figura, que vergonha!... Ainda bem que neste lugar permaneço incógnita. Pois aqui é complicado alguém me encontrar. Realmente, que constrangimento e que espectáculo mais parvo!... Comentava Alexandra para si mesmo ao rir-se sozinha.
Mas quando, subitamente, deu uns passos em frente reparou que os seus cabelos renasceram e, rapidamente, eles voltaram à normalidade. Então sorrindo mais uma vez, pensou em como tudo seria bem melhor se na vida real houvesse uma possibilidade semelhante…
Ou talvez não, talvez a vida ficasse ainda mais baralhada: a felicidade perderia o seu valor verdadeiro e o ensejo de novas descobertas deixariam de fazer sentido. No fundo, tudo ficaria deveras medíocre e isso traria somente desvantagens, onde tudo seria muito mais complicado. Porque a banalidade traria cada vez mais problemas e dificuldades.
Ela viu que no seu inventário existiam vários acessórios, peças ou símbolos. Alguns deles estavam representados por desenhos, por isso sabia que era roupa, mas outros não. Ia descobrindo pouco a pouco, aliás, como todo o resto…

Matutando nesse problema, a noite passou, mas logo na manhã seguinte, o procedimento foi idêntico, Alexandra, já se sentia atraída pelo seu avatar, Alexpinheiro. Então, sem resistir à sua ansiedade interior, deixou a vontade exprimir-se, o acaso preenchê-la e a novidade comandar... Após ter partilhado esse acontecimento com algumas pessoas, as quais também elas se riram do sucedido. Ela deu-se conta que afinal viveu esse capítulo como se fosse real: sentindo-se envergonhada e desconfortável.
Renasceu novamente no fundo do mar, ainda chegou a pensar na possibilidade de reaparecer vestida, mas... enganou-se. E escondida de qualquer olhar alheio, ali continuava ela e ao mesmo tempo comunicando ao pensamento:
- Não existe nenhuma razão para me sentir envergonhada. Afinal de contas, quem está ali é só mais uma figura no meio de milhares existentes neste mundo ilusório. Apesar de naquela imagem não morar nenhum tipo de sensações, os sentimentos existem sim, mas dentro de cada ser humano que comanda esta ficção…

Alex levantou-se novamente, num pequeno voo e avançou junto à superfície da água do mar. Então viu, um pouquinho mais à frente, algo que sobressaia dessas águas e, lentamente, se mostrava com mais pormenor - uma linda ilha. Cercada de um verde mesclado, devido a algumas folhas já secas e também várias flores cresciam juntando-se ao castanho claro da areia.

Ao chegar a esse lugar, como continuava nua, experimentou “clikar” ou pressionar o dedo em cima de uma tecla. Não sabia exactamente quais as suas funções, mas lembrava vagamente de que funcionava também para se vestir.
Depois de tentar e conseguir assim um dos objectivos desejados, deparou-se com umas cuecas brancas vestidas. Respirou fundo mas verificou que não era o seu bikini cor-de-rosa. Porém, não tinha importância, pelo menos o desconforto já era bem menor…
Avançou sobre a paisagem e em direcção à imagem que se encontrava um pouco mais à frente. O nome que estava escrito por cima do avatar, defronte dela, parecia português e feminino. Então, sem hesitar, Alex fez o primeiro contacto:
- Olá, bons dias! Escreveu ela.
- Bom-dia! Tudo bem? Perguntou a outra pessoa e continuando disse: andas por aí quase nua, pois até tens um peito bonito e estamos na praia. Alexandra sorriu ao ouvir essas palavras, que mais pareciam um elogio dirigido à sua imagem.
- Estou aqui há quase um mês, mas ainda não sei praticamente nada. Além disso ando perdida.
- Ah! Isso é algo perfeitamente normal, acontece com todos nós, os novatos da SL. Não desesperes, vamos aprendendo pouco a pouco. Com calma e paciência tudo se consegue. Agora vou dar-te algumas peças de roupa, assim podes ir mudando.
Alex aceitou e agradeceu as ofertas e trocaram mais algumas palavras de amizade. Reparou, entretanto, que a outra avatar seguiu o seu caminho, desaparecendo da sua visão.

Alegra-te, sempre que encontrares uma barreira no teu caminho, algures existirá uma passagem…

Capítulo VI

Alguns dias após o primeiro contacto, Alex conseguiu vestir umas calças de ganga e uma simples blusa preta, que fazia realçar o seu cabelo cor-de-rosa. Eram algumas das peças que lhe foram oferecidas pelo seu primeiro conhecimento. As restantes roupas continuavam, todavia, invisíveis mas com a indicação de permanecerem no seu “inventário”. Pois, tudo era, ainda, desconhecido, sem saber como usa-las nem vestir-se convenientemente.

Passados dois dias, Alexandra já se sabia vestir e sentia-se contente com esse grande passo. Sim, porque estamos sempre em tempo de aprender, seja qual for o objectivo. O desejo de todo o ser humano é encontrar sempre a novidade: seja para fazer ou desfazer, achar qualidades ou defeitos e, até mesmo, dificuldades e desafios. Mas com a necessidade de descobrir constantemente algo.

- Olá! Leu ela de alguém que escrevia atrás de si, assim que chegou a um sítio acabado de desvendar, pois seguia sempre na direcção dos pequenos pontos verdes, os quais marcavam presença no mini-mapa, pois era sinal de pessoas online.
- Olá! Respondeu Alex sem saber a quem, mas também não era o mais importante.
- Tudo bem contigo? Estou a ver que és portuguesa e novata, espero que te desenrasques bem.
- Faço por isso, obrigada, mas como sabes isso? E tu quem és?
- Também sou português, e vejo isso no teu “profile”, como tu podes ver no meu… mas nem tudo é verdade, qualquer um pode mentir, como sabes.
- Pois, está certo, mas mentir para quê? Acho que não ajuda, é preferível ficar calada, não achas?
- Sim… nunca ganhamos nada com isso, mas ficamos sempre na dúvida, por exemplo, neste momento não sei se estou a falar com uma mulher, ou com um homem?
- Ah, ah, ah e se fosse um rapaz, havia algum problema? Pois eu também fico na dúvida quanto a ti!
- Claro que não, seria igual, ou melhor, parecido, pois estou a gostar desta conversa.
- E eu também, ah! mas por hoje, acho que chega de conversa, porque infelizmente vou ter que sair do programa.
Recorda-se bem que esse foi um dos primeiros conhecimentos portugueses, e lembra-se do que ele lhe disse, antes de trocarem amizades e se despedirem:
- Aqui dentro os muitos contactos que vamos adquirindo também se vão afastando, isto é mesmo assim… tudo vai mudando, por um lado é bom, porque não conheces quem está por trás da máscara, do “avatar” mas ficamos sempre um pouco desiludidos, porque a amizade acaba rápido.

Na terceira tarde, Alexpinheiro continuou a caminhar um pouco mais, partindo do sítio onde fizera o segundo contacto e em direcção a mais um ponto verde, que se fazia notar, mais à frente. Embora não encontrasse, ainda, um motivo forte para continuar com essa aventura, também não tinha nenhuma razão para desistir agora daquela ideia. Por isso, ela continuaria com este desafio, sonho ou exploração, que a levaria a algum lugar... Fosse qual fosse o resultado acabaria sempre por ganhar.
Avançava com a curiosidade à flor da pele, ao saber que descobrira uma nova pessoa nesse espaço. Ficou ainda mais satisfeita quando viu que a imagem que permanecia à sua frente, não era nem mais nem menos que a do seu professor da SL.

- Olá, até que enfim! Exclama ela como se descobrisse uma luz ao fundo do túnel.
- Olha quem ela é!
- Já não era sem tempo encontrar alguém conhecido. Como vai?
- Comigo vai tudo bem. Então e tu? Como vai essa saúde?
- A saúde vai indo... Porém, muito embora eu quisesse que a minha situação clínica estacionasse, infelizmente ela não me obedece, responde Alexandra, dando uma gargalhada.
- Assim é que eu gosto de te ver bem-disposta. Disse-lhe ele com um sorriso.
- Pois que remédio! Faço por isso, o inverso não resolve nada, antes pelo contrário...
- Parece que te estás a integrar aqui dentro, ou será que estou enganado? Sabes que te vejo sempre, cada vez que entras ou sais da SL. Aliás, como vejo todos os outros que tenho adicionados à minha lista de amigos. E estou a gostar de ver...
- Ai é, ainda bem! Com respeito a Alex, parece que está a gostar desta aventura. Quanto a mim, Alexandra, sinto-me, realmente, ainda um pouco sozinha, sem saber como nem o que fazer. Vais ter muito que me ensinar…
- Não digas isso, já sabes umas coisas e, todos os dias, aprenderás algo mais.
- Sim, é verdade: hoje sei mais que ontem e menos que amanhã. Mas é claro que preciso de saber muito mais aqui dentro.
- E eu estou pronto para te ajudar em tudo o que precisares. Basta chamares ou falares-me, sempre que eu estiver “online”. Sei também que tu tens, igualmente, algo para me ensinares. Aliás, todos nós sentimos a necessidade de partilhar e pedir conselhos sobre certas aventuras, nem que seja só para ajudar a encarar melhor esta vida. E tu tens esse dom…
- Fica prometido que te irei chatear muito… Também estarei sempre disponível naquilo em que, casualmente, te possa ajudar. Mas agora vou ter que me recolher… como vês, também tenho horários a cumprir, embora diferentes…
- Pois, e eu fico por aqui mais um pouco…
Alexandra ficara muito satisfeita, depois desse encontro, pois tinha acabado de encontrar mais uma excelente razão, para seguir em frente com este novo objectivo. Com mais confiança em si própria, trocou ainda algumas palavras de amizade com o seu “professor” e amigo da primeira e segunda vida, e despediram-se.

Capítulo VII

Os dias iam passando e Alexandra fazia alguns conhecimentos, sempre que encontrava alguém por perto. Pois já sabia adicioná-los, perfeitamente, à sua lista de amigos. Infelizmente, tudo isso se passou como a tinham avisado, muitos desses nomes já não existiam, fosse porque mudaram de avatar, de nome ou simplesmente desistiam deste programa.
Nos salões de baile que ia descobrindo sozinha ou acompanhada, ela reparava bem, em cada nome ou profile, verificando se eram linguagens que ela conhecia. Metia conversa com eles convidando-os para dançar, sempre que tinha a certeza de que falavam francês. Pois esse era o principal motivo de procurar os nomes dos avatares em línguas que lhe dissessem algo, como o Português e, também, o Francês. Por vezes a sorte sorria-lhe, e assim, Alexpinheiro descobria vários novos amigos, dos quatro cantos do mundo, pois a amizade é feita, unicamente, para partilhar.



A linguagem principal, desse programa era o Inglês, sendo um idioma pouco conhecido por si, falava apenas o suficiente para se desenrasca e fazer novas descobertas. Sem que isso a impedisse de travar certos e rápidos contactos.
O francês, como língua era dominado por si sem dificuldade. Pois, para quem passara a sua adolescência em Paris onde, inclusivamente estudou, não constituía problema algum. Alexandra sentia-se muito mais a vontade e mais segura, porque embora evitasse amizades para além desse programa, SL¬, tudo ficava mais fácil. Sem sentir a obrigação de revelar tal fardo, algo dificilmente aceitável, fosse por si mesma ou pelos outros.

Divertia-se bastante com algumas pessoas, ou melhor avatares, Alex ria-se com muita vontade quando se encontrava no meio de certas situações, um pouco embaraçosas, mas como ainda era principiante, não deixavam de ser engraçadas. Vivia outras, mais apaixonadas, pois evitava recusar, quando a convidavam para dançar ou para um passeio mais romântico recheado de poses de “kiss”. Pois era sempre uma óptima ocasião para conhecer melhor a própria SL e até as pessoas, na realidade, sim porque ali dentro, mesmo só trocando umas conversas banais, já se ficava a conhecer algo mais da pessoa em questão, fosse na maneira de comunicar ou no modo de vestir o avatar, pois tudo era relevante…







Alexandra sentia, um grande interesse em descobrir um pouco mais de cada pessoa, qualquer ser humano, porque embora sejamos todos iguais, cada um tem a sua diferença de ver e sentir.
Conforme os dias passavam, a amizade avançava entre alguns, e de maneira diferente em todos. Mas a curiosidade falava mais alto e ela achava engraçado e interessante ao mesmo tempo que murmurava rindo-se bastante:
- Ao menos aqui podemos aproveitar tudo, ninguém se conhece, nada é contagioso e nem existe o risco de engravidar nem sequer doenças transmissíveis.

No inicio dessa aventura, conheceu uma pessoa, um homem Belga, segundo o que ele lhe disse, simplesmente, porque a dúvida mora connosco. Nic era o seu nome, raramente entrava na SL, mas foi o suficiente para viverem uma breve e bonita relação. Quando Alexandra decidiu contar-lhe a verdade, essa mesma oportunidade evaporou-se, pois ele deixou simplesmente de aparecer. Ficou um pouco triste por ele ter desaparecido tão subitamente mas também aliviada, pois soube que não foi pelo motivo, que ela pensaria caso lhe tivesse contado. Fosse qual fosse a razão, ela unicamente, teria que a aceitar, pois qualquer decisão e em qualquer altura tinha lógica. Às vezes a vida real é insubstituível e, então, sentimos a obrigação de abdicar de todo o restante, algo normalíssimo…













Foi logo a seguir a esse episódio, que Alexandra entrou, nessa segunda vida, com outro avatar, por curiosidade, pois tinha sido desafiada sobre isso mesmo, então, sem resistir cedeu a mais esse desafio. Fora uma nova aventura, algo que não apreciou muito, porque além de nos dar, uma certa de privacidade, nalguns aspectos, também nos obrigava a mentir, ainda mais, era uma segunda personagem nessa segunda vida. Aventurava-se de vez em quando para, unicamente, descobrir novos lugares e amigos.
Evitava mentir, ou então omitia esse facto, pois ninguém era obrigado a dizer o que não quisesse. Mas na maioria das vezes, quando alguém a confrontava com algo, dizia o que pensava, o que sentia e o que achava sobre isso, pois algo que se dizia constantemente, era o ser sincera e quem desgostasse da verdade, paciência.
Todavia, os conhecimentos que ela fazia duravam pouco tempo, terminando logo de seguida. Talvez porque se notava bem que ela era mais uma novata e ninguém estava interessado em desperdiçar o seu precioso tempo com iniciados. Ou simplesmente, evitavam dar-se a conhecer. Mas ela não se importava, porque sabia que a “paciência era amiga da perfeição” e que “devagar se vai ao longe”. Por tudo isso, não havia preocupações... ela estava consciente que as maiorias das pessoas procuravam, esse programa, como uma fuga, onde se escapuliam para uma segunda vida. Por isso, cada um vivia a vida à sua maneira.

“Tudo podemos aperfeiçoar na vida: basta querermos e esforçarmo-nos, fazendo com que isso valha a pena.”