maio 10, 2011

Capítulo I

Estávamos no meio do Verão, no final de uma manhã quentíssima e calma, mas que no fundo, se tornava incomodativa. Era a tarde de uma segunda-feira, como tantas outras.
Continuávamos em pleno mês de Agosto e, como era normal nessa época, o tempo permanecia demasiado quente e abafado. Embora também nublado, por causa do imenso fumo existente.
Um ligeiro cheiro a queimado, que provinha dos imensos fogos por todo o país, encerrava ainda mais esse sopro quente. O qual se fazia sentir um pouco por todos os lados.
Alexandra, na sua blusa de alças cor-de-rosa e calções de ganga, de um azul-escuro, depois de entrar na pequena sala, onde permanecia o seu computador juntamente com outros dois, da casa, dirigiu-se imediatamente, empurrando a sua cadeira de rodas, para a abertura que ali permanecia.
Quando alcançou o trinco da única janela, dessa sala, e depois de fazer um pequeno esforço para a abrir, respirou fundo, pois ainda pairava no ar um pequeno cheiro de tinta fresca. O qual se tornava insuportável com aquele bafo quente.

Alexandra curvou-se um pouco para a frente, com a única intenção de sentir a suave e leve brisa no seu corpo suado. Aquele mesmo ar que, embora abafado, não deixava de ser gratificante. Também o mesmo que, indesejavelmente, colava o seu físico ao tecido um pouco áspero da sua cadeira de rodas, provocando-lhe, infelizmente, um grande desconforto.
Sorriu para si mesma, ao lembrar-se do comentário ouvido pouco tempo antes. Agora, com os seus quarenta anos, era chegada a altura de regressar à sua adolescência… Ou, provavelmente, a de reaver, os momentos que deixou escapar, sem desfrutar da altura certa nem do privilégio, nem mesmo das possibilidades, de os agarrar.
Uma segunda vida esperava por ela, ou melhor, uma outra forma de encarar o futuro com novas oportunidades. Expectativas, ilusões e até mesmo descobertas viriam ter com ela, e Alexandra continuaria ali para as albergar, respeitar e descobrir, mas questionava-se, constantemente, se seria bem assim…
Embora Alexandra achasse interessante esses novos desafios, a notícia, porém, não a deixou minimamente interessada. Não, não era agora que aceitaria uma novidade totalmente desconhecida em todos os aspectos, dizia-se ela convicta em recusar. Porque, embora ela soubesse que estamos sempre a aprender sentia-se bastante desiludida e triste com a vida. Sabia também que nada nem ninguém tinha a culpa da situação em que se encontrava. Sim, pois qualquer pessoa está sempre sujeita a alguma coisa, em quaisquer circunstâncias e, muitas vezes, quando menos se espera…

À hora anunciada chegaram as pessoas previstas, algumas das quais eram já suas conhecidas. Pertencentes à empresa que a ajudara a adquirir o computador portátil, algo deveras ambicionado por ela. Pois Alexandra adorava escrever e esse desejo tornar-se “possível”, ou seja, muito mais fácil de concretizar, com a ajuda necessária. Porque, ao saber que uma parte do seu sonho poderia ser realizável, já se considerava plenamente satisfeita.
Ela também era conhecedora que, embora a vida lhe tivesse fechado a porta principal, em algum lugar existiria uma janela à espera de ser aberta. Alexandra sentia-se competente e corajosa para procurar esta oportunidade de dar um rumo, o mais positivo possível ao destino, que embora fosse intolerável, era o seu.
Eles puseram de imediato o projecto em movimento: queriam dar a conhecer uma nova forma de vida ou, talvez, fazer despertar o interesse por uma outra maneira de encarar o futuro, ou até mesmo de o saborear mais docilmente.
O primeiro pensamento de Alexandra quando viu o conteúdo daquela pequena caixa foi: para que quero eu uma segunda vida se a que tenho me é mais que suficiente?
Sim, para quem tem uma linha de vida repleta de altos e baixos, cheia de pontos de interrogação e demasiado séria, não é fácil aceitar a ficção ou, talvez, o outro lado do sonho. Aquele onde tudo é fácil e possível e onde não existem pesadelos nem barreiras para fantasiar, mas única e simplesmente ilusões para descobrir…
A curiosidade de Alexandra tentou despertar quando se deparou com o conteúdo da maleta posicionada à sua frente. Como era possível algo tão pequeno conter tanta coisa? Numa única tecla existiam milhares de funções e cada função continha centenas de utilidades diferentes!

Mas quando, logo de seguida, Alexandra viu o desenrolar daquele “programa”, que mais parecia um filme em banda desenhada, onde os protagonistas, os actores e os dirigentes eram comandados pela mesma e única pessoa, foi aí que achou que o seu interesse se queria mostrar, pois nada tinha a perder, pensava ela. Para quem já perdera o mais importante da vida, ou seja a saúde, todo o restante permanecia secundário…
Sim, talvez, ela ficasse só a ganhar novas formas e oportunidades de encarar a realidade e, ao mesmo tempo, enriquecê-la um pouco mais. Possivelmente encontrasse outras opções, expectativas, descobertas, amizades e conhecimentos, pois nunca é tarde para aprender, nem mesmo ensinar…
Mas, apesar de tudo, Alexandra não encontrou grande motivação nesse novo e fantástico mundo, ou unicamente não queria deixar-se comandar por algo diferente. Porque no fundo, já era comandada por alguma desigualdade…

No final do primeiro dia da semana alguém lhe perguntou qual a sua opinião sobre o que acabara de ver e, também, se estava preparada para receber uma segunda vida. Pergunta à qual ela respondeu com outra pergunta e um sorriso:
- Não deixa de ser interessante esta outra face da vida, mas para que desejo eu uma segunda existência, se aquela que me foi destinada me preenche completamente?!
A lógica permanecia, mas a dúvida estava à espreita. Porque não tentar esta oportunidade? Dizia ela, ao mesmo tempo que continuava o seu comentário:
- Claro que ninguém é igual e ainda bem, senão esta vida seria ainda pior e mais severa. As opiniões dividem-se, os sentimentos variam e os pensamentos partilham-se. Mas, no fundo, se formos a analisar bem as coisas, fica unicamente a parcela da amizade e a carência de comunicar com os outros, ou mesmo a necessidade de sermos ou sentirmos um aconchego.
A curiosidade que teimava em querer abrir a porta ao interesse já se fazia notar, mas Alexandra recusava querer asilar a aposta de abrigar mais uma novíssima possibilidade: aquela de lembrar que da ilusão e do sonho também se vive. Ou, única e simplesmente, imaginar as oportunidades que não tiveram a sorte (e quem sabe se o infortúnio) de as agarrar no tempo adequado.

Alexandra interrogava-se, com a dúvida a querer mostrar-se: Sim, porque não tentar? Nada me impede e, pelo menos, seria uma forma de agradecimento ao empenho deles, em quererem adicionar um tempero mais dócil a esta vida, que, na maioria das vezes, se torna deveras amarga.
Como tudo pode ser possível, basta nós dar-mos asas a nossa imaginação, ou nascermos novamente num mundo ilusório. Para ter essa possibilidade, eu queria nascer de novo.
No final dessa mesma tarde Alexandra fez um resumo de tudo o que vivera, nesse primeiro dia, na nova oportunidade que se estava abrindo à sua curiosidade e à sua capacidade de enfrentar o dia de amanhã.

Efectivamente é algo que depende só de nós e da nossa maneira de encararmos o futuro e, obviamente, também da decisão de agarrarmos as opções que nos foram e serão sempre oferecidas.
Alexandra sem querer acolher a pouca diferença positiva, que já sobressaía involuntariamente e se estendia à sua frente, achou melhor dormir e não pensar mais nesse assunto. Pois, outros dias, talvez melhores, estariam para vir.

Se os sonhos ajudam a viver, não os aprisiones para a realidade, transformando-os em pesadelos…

Capítulo II

Na tarde do terceiro dia, ou seja, na quarta-feira, dessa mesma semana, como prometido e à hora marcada, regressaram os promotores do novo projecto “recrear”. O desinteresse de Alexandra, apesar de ainda continuar, já possuía uma pontinha de apetite para desvendar algo mais.
Então, deixando de resistir e mostrando-se um pouco mais receptiva, aceitou esse primeiro desafio. Alexandra queria “dar a si própria” a possibilidade de experimentar até onde chegava o seu interesse e a sua coragem: estamos pois, constantemente em tempo de aprender, seja de que maneira for, dizia-se constantemente…
- Com que nome desejas baptizar a tua própria representação ou, melhor, o teu “Avatar”? Podes inventar a alcunha de um outro nome, se o preferires. Ninguém é obrigado a dizer a verdade.
Assim, viu-se ela, inesperadamente, confrontada com esta pergunta e à qual respondeu imediatamente, com um sorriso e num tom de brincadeira:
- Pode ser Alex, pois é o diminutivo do meu verdadeiro nome, além de Pinheiro. Também, para as vezes que tenho intenção de lá entrar, chega-me perfeitamente. Prefiro não mentir e depois se conseguir levantar voo já me considero satisfeita.


Após escolhida, a futura imagem, ela sentiu a liberdade de comandar os primeiros passos da sua ”segunda vida”. E, assim, com gosto aventurou-se, seguindo atentamente as instruções da pessoa que permanecia ao seu lado: carregava numa tecla e avançava, carreg ava numa outra e recuava, mais uma e levantava voo e, assim, sucessivamente.

Mas Alexpinheiro achava-se esquisita, ali dentro, com uma aparência feia, sem personalidade, aspecto nem cor, mas dizia que também era o menos grave. Porque a aparência, física, era o que menos importava, fosse ali dentro ou noutro lugar. Quando ele lhe propôs mudar o tom de pele, ela ficou um pouco mais vaidosa, feminista e até com mais confiança nela própria. Apesar de ter escolhido uma pele normal e simples, sentia-se mais optimista e de feições mais perfeitas.

O “Professor”, como ela lhe passou a chamar, após ter instalado o programa dentro do seu computador, levou-a às compras e deu-lhe a oportunidade de escolher um pouco de tudo: desde a cor dos olhos às roupas. E, achando essa experiência interessante, deixou-se contaminar…
Pouco depois, sempre dentro do programa, ele chamou-a, ou melhor deu-lhe “TP” (tele-transporte). “Tele-transportou-a” para um maravilhoso jardim, feito em três dimensões. Não deixava de ser lindo: parecia verdadeiro com flores e cores perfeitas. Viam-se as borboletas a voar, ouviam-se os passarinhos a cantar optimamente e até o vento, algo invisível, acariciava as folhas das árvores.

Alexandra gostou de experimentar o que sabia ser irreal, ou somente ficção. Sabia também que, por trás de cada imagem, havia sempre alguém que a comandava, existia sempre um ser humano, com todos os seus defeitos, virtudes, sonhos e qualidades.
Igualmente, com todos os seus sentimentos, fossem eles bons ou menos bons, suas mentiras ou verdades, mesmo, como aquelas, escondidas ou vividas na obscuridade, mas com as emoções comandadas constantemente pelo coração.

Nessa noite, depois do jantar e como era seu costume, Alexandra refugiou-se na pequena sala defronte ao seu computador. Pois era o seu lugar preferido, aquele onde se deliciava a escrever com a inspiração e a tranquilidade adequadas. Além de ser um dos poucos sítios habitados pela paz era onde podia escrever sossegada, quer fossem pensamentos, poemas, pequenas histórias ou até mesmo, certos romances os quais, infelizmente, nunca veria editados, só porque não tinha fama, nem possibilidades económicas e muito menos a saúde vivendo nela...
Sim, na localidade onde residia, já sendo o seu lar, era realmente complicado descobrir momentos e locais de descontracção, embora isso parecesse possível, a complicação permanecia. Porque o que parece muitas vezes não é, e o que na realidade é, certas vezes passa despercebido…. Mas a única certeza existente nesta vida, é que tudo permanece incerto.
Infelizmente, os vários e constantes gritos provinham dos muitos tipos de doenças das pessoas que lá existiam. Os mais variados problemas encontravam-se ali, desde doenças físicas às doenças mentais. Havia também quem tivesse a pouca sorte de possuir um pouco das duas, algo dificilmente controlável.
Sem que ninguém tivesse a culpa de nada, os bramidos e gemidos porém, estavam constantemente presentes. Porque, embora, todos nós estivéssemos ali para sermos ajudados, também nos encontrávamos lá para ajudar em tudo o que pudéssemos. Pois não existe ninguém no mundo que não necessite de ajuda, ou algum tipo de apoio, seja ele físico ou psíquico.
A maioria das pessoas vêem os deficientes como sendo todos iguais, mesmo sem tentarem compreender as diferenças, sim, porque elas existem embora, por vezes, invisíveis à primeira vista. Qualquer pessoa, por menos que queira, é portadora de, algum tipo, de deficiência, mais ou menos visíveis, com necessidades, maneiras e gostos diferentes mas sempre presentes…

Uma rosa sem espinhos, nunca será uma rosa verdadeira, por isso, o destino para ser válido tem que possuir espinhos…

Capítulo III

Duas tardes depois, sendo o último dia da semana, quando eles chegaram, Alexandra tentou mostrar-se indiferente, mas, no fundo, o bichinho da curiosidade já tentava romper o véu do impedimento. Ela estava consciente desse facto, mas ainda se recusava a aceitar essa ilusão.

Ele levou-a a passear, de barco e num objecto voador por entre as nuvens, o que não deixava de ser engraçado, curioso e agradável. Porém, sem querer despertar o lado “adormecido” da sua curiosidade, dizia-se constantemente:
- Isto, não é mais que uma brincadeira, é apenas mais um jogo ou um passatempo para quem não tem mais nada que fazer, nem o que pensar. Não é para mim, que já considero, esta minha vida demasiado pesada...

Alexandra, nesse fim de tarde e, depois de abrir o computador, fixou o símbolo bem visível da “Second Life” (abreviadamente: “SL”) e sentiu uma grande vontade em experimentar, passear um pouco nesse universo fantástico. Além de ainda pouco ou nada saber, a curiosidade de sentir essa nova experiência já não a largava.
Agora, que estava sozinha, deixou o interesse apoderar-se dela e a mão seguir na direcção do cursor, onde clikou ou pressionou duas vezes seguidas, para abrir a “porta” e entrar num “mundo” ilusório, belo e desconhecido.
Acordou ou “renasceu” exactamente no mesmo jardim, onde estivera algumas horas antes na companhia do seu “informador”, professor e actual amigo na “SL”.

Era a mesma paisagem que crescia, lenta e maravilhosamente, defronte dela e, pouco a pouco, tornava-se visível, a qual ela apreciava novamente. Também, mais à frente, via-se nitidamente a praia onde já tinha estado, com o seu amigo e, também, onde ele lhe ensinou a praticar, skateboard.
Alexpinheiro avançou embelezada por essa natureza. Nesse lugar contemplava-se e ouvia-se nitidamente o som da água que embatia nas rochas e, alegremente, ambas cantavam felizes por sentirem a liberdade. Viam-se os golfinhos e peixinhos a saltitar e mergulhar à sua frente. Ela reparou que não estava só: havia diversas imagens, ou seja, várias pessoas “on-line” no espaço que a câmara do seu computador alcançava.
Era uma sensação estranha e diferente, agora que estava sozinha, talvez mais liberta mas também mais desamparada, sem poder contar com nenhuma ajuda.

Sentiu que chegara a altura de começar a explorar melhor a função de cada tecla. Mas tinha receio, porque a facilidade de estragar estava bem presente. Por isso era preferível não mexer sem ter a certeza. Foi prosseguindo cuidadosamente, fazendo somente o que achava seguro, pois, preferia avançar devagar mas com toda a firmeza e confiança possível. Existiam milhares de funcionalidades e centenas de opções dentro daquela pequena caixa. Assim, novas ocasiões de as descobrir não faltariam, pois, as maiores dificuldades encontram-se sempre ao princípio do caminho.

Sim, porque embora fosse a imagem de uma boneca escolhida por ela, dentro do computador, tudo era controlado por si, ou seja, as decisões, as escolhas, as resoluções ou os problemas enfim, os sentimentos seriam exactamente os mesmos, embora com algumas formas diferentes de os exprimir.
Alexandra, no seu esconderijo, estava decidida em explorar e descobrir tudo o que a aguardaria por trás dessa janela, que lhe fora mostrada.
Com o seu bikini cor-de-rosa, Alex avançou sobre a paisagem que a cercava. Ela continuava descalça mas não importava, pois caminhava sobre uma praia e em direcção ao mar. Era uma sensação maravilhosa andar sobre a areia quente e húmida, algo de que ela ainda se lembrava perfeitamente.
A cada passo que dava, na direcção do mar, a água cobria-a e ficou, pouco a pouco, completamente encoberta pela mesma. Sorriu quando se viu a caminhar debaixo daquela água tão transparente e pensou que afinal nada a controlava a não ser a própria.
Era engraçado, óptimo, curioso e agradável, ao mesmo tempo que pensava:
- Se na vida real houvesse a mesma facilidade, aquela de não existir nenhuma barreira, principalmente física, onde nos pudéssemos evadir da rotina diária e, facilmente, entrarmos no nosso imaginário com todas as nossas vontades. Sem nos deixarmos contaminar pelo negativismo da vida real ou, até mesmo, pelas sensações fictícias, ansiadas e desconhecidas... Todavia, todos os sentidos continuam, a florescer, dentro de nós.
Nas profundezas desse mar, conforme caminhava lentamente, deparou-se com algumas casas e plantas. Então sorriu, mais uma vez para si, ao lembrar-se do pouco que já vira e também do que iria ver ainda, caso quisesse continuar com esta exploração. Existirem plantas aquáticas, areia e rochas, coisa normalíssima, mas casas e automóveis só mesmo ficção!...
Após avançar um pouco mais nesse recente mundo, achou melhor desistir, pelo menos por esse dia. Pois, já estava na hora de se recolher, para o vale dos lençóis, mas permanecia constantemente na indecisão de seguir em frente. Dependendo de terceiros, ela fazia, sempre, os possíveis para cumprir as regras da casa.
Gostando ou desgostando e sem ter outra alternativa, infelizmente, era esta a sua vida real.

Na vida, tudo faz sentido, mesmo aquilo que nos recusamos aceitar…

Capítulo IV

A sua vida real continuava ali, sempre presente e repleta de momentos vazios, que eram demasiado complicados...
Mas, embora Alexandra continuasse consciente desse facto, também desejava encontrar algo desigual, novo e recente, algo que a ajudasse a descobrir o sentido positivo desta vida. Não, não podia deixar passar mais esta oportunidade, esta oferta do destino, pois sempre gostou de experimentar a novidade. E agora com a coragem, vontade e optimismo de continuar esse caminho, tudo ficava muito mais acessível. Pensou também na possibilidade que se abria à sua frente e que a levaria a algum lugar, graças às novas descobertas da tecnologia.
– Mas seria bem assim? Questionava-se ela, ao mesmo tempo que fazia a comparação…
E, nesse fim de tarde, continuou novamente e confiante, o caminho que Alexpinheiro, a sua “avatar”, tinha iniciado.

Os pouquíssimos conhecimentos ou “contactos” que ela já tivera, como os do “professor” e pouco mais, permaneciam “offline”. Pois ela ainda pouco sabia, por não ter prestado a atenção devida ao que lhe fora dito ou explicado, simplesmente porque nessa altura se mostrou desinteressada.
Sim, os nossos erros só servem para nos ensinarem, no momento certo, e junto deles descobrirmos a melhor maneira de nos desenvencilhar. Por isso não iria desistir agora, justamente quando se via perdida e sem o conhecimento necessário para dar o próximo passo, mas Alex sentia-se apta para descobri-lo. Sairia sim, mas num momento vitorioso e quando ela própria o desejasse.
Haveria de descobrir uma maneira viável, de se interessar por este programa, pois ele continha a sua verdade.

Na tarde seguinte o processo foi exactamente o mesmo e Alexandra continuava perdida. Engraçado e também curioso estar perdida numa caixa tão pequena! Então, dizia-se que, afinal de contas, ela estava ali para aprender… Porém, neste momento, sentia-se ainda um pouco abandonada e vazia, isto graças ao pouco interesse anteriormente manifestado, pois só se aprende ao fazer com que todos os possíveis sejam validos e ao enfrentar qualquer tipo de circunstância.
Alexandra interrogava-se, dizendo: para uma pessoa que se mostrara indiferente e sem vontade de experimentar este novo universo, a culpa era só sua pelo pouco que ainda sabia, mas a vontade de querer saber mais já permanecia bem presente.
Os dias seguintes foram idênticos ou quase, Alexpinheiro continuava sem saber o que fazer, tudo era estranho e desigual, por vezes pensava desistir, mas o desejo de seguir em frente já era bem visível: ela entrava mas saia alguns minutos depois. Além de se sentir perdida achava que não havia lugar para ela naquele mundo, mas, mesmo assim, tentaria. Pois a futura possibilidade de encontrar alguém estava sempre à espreita.

Os dias e as noites passavam quase iguais, e a tarde de mais um dia, de calor, regressava. Alexandra, após ter escrito um pouco sentiu vontade de “refrescar as ideias” e mergulhar novamente nesse recente
mundo.
Então, com a curiosidade e o optimismo à flor da pele, fez o mesmo procedimento dos dias anteriores, e eis que “renasceu”, exactamente no mesmo local onde tinha deixado o seu “avatar”, ou seja, no fundo do mar.
Alex continuava em bikini e cabelo cor-de-rosa. Embora fosse esquisito, como cor de cabelos, fora a cor escolhida por ela, pois, além de ser uma das preferidas, era deveras invulgar.
Viu que estava completamente sozinha, dado não haver nenhum sinal que indicasse que outras “pessoas” estivessem ligadas a esse programa.
- Ah ah claro que ninguém gostaria de estar neste lugar, no meio do nada, dizia ela para si mesma.

Sentiu novamente a curiosidade em querer explorar um pouco mais desse novo mundo, mas achava-se completamente perdida. Embora permanecesse debaixo de água, era como se estivesse no meio do deserto e sem saber o que fazer, nem para onde seguir. Porque apesar de não se encontrar ali fisicamente, permaneceria lá emocionalmente e inclusive com todos os sentimentos.
Depois de respirar fundo, carregou na tecla de voar e levantou voo, subindo por cima do mar e das nuvens. Era um espaço totalmente vazio, onde ao fundo se via o pôr-do-sol maravilhoso com algumas estrelas, um pouco mais distante.
Achando-se completamente liberta e a flutuar foi voando no vazio desconhecido. Sentiu vontade de encontrar alguém e de comunicar com a pessoa que estivesse por trás de algum “avatar” que Alexpinheiro encontrasse. Sendo assim, ela travaria um primeiro conhecimento, algo bastante ansiado.
Mas avançando completamente no vazio e sempre acelerando, sem saber para onde ir, Alex continuava em grande velocidade, mas só ouvia o barulho que o vento fazia ao passar por ela e ela por ele. Era uma sensação de total liberdade... Só lá ao fundo continuava o pôr-do-Sol, que ia mudando, pouco a pouco, a sua tonalidade escurecendo e cedendo o seu lugar à Lua.

Chegava a hora, mais uma vez, de se desligar da sua segunda vida, que ainda era desconhecida, e se recolher, para o lugar de sempre, o seu quarto. Para descansar mais uma noite, de um dia recheado de vazios inexplicáveis, mas que ela arranjava, constantemente, alguma maneira de os preencher.

“Ninguém é igual a ninguém e todos nós somos seres únicos com as nossas virtudes e defeitos. São expressões bem conhecidas e verdadeiras. Sejam as diferenças grandes ou pequenas, as qualidades melhores ou piores, mas sempre existe a necessidade de demonstrar e viver com amor.

Capítulo V

Mais uma segunda-feira chegava ao fim, pois já fazia duas semanas que não sabia absolutamente nada, das pessoas que lhe abriram o apetite por esta nova possibilidade.
Ela tinha curiosidade de saber qual o verdadeiro motivo desse afastamento ou o porquê deles desistirem daquilo que começaram, mas, no dia seguinte soube a razão:
Eles haviam cancelado esse projecto, simplesmente porque não acharam ninguém naquela casa que correspondesse aos seus objectivos. Ou, talvez, encontrassem somente o desinteresse na única pessoa capaz de o cumprir, ou seja ela.
Deste modo, Alexandra ficou sabedora da verdade. E, um pouco decepcionada, seguiu em direcção ao seu sítio preferido. Assim, desiludida consigo própria refugiou-se junto do seu computador. Pois era o local onde se sentia melhor, apesar de todas as suas frustrações, pensou um pouco em tudo aquilo, afirmando: Simplesmente porque não se mostrou suficientemente interessada em fazer parte desse mundo, iria, assim, perder essa maravilhosa sensação da descoberta?!
Após essa desagradável noticia e, sem duvidar mais, resolveu: - Tudo está nas minhas mãos, o dar asas ao meu sonho só depende de mim!...

Acelerava, errante no vazio, mesmo sem ver nenhum sinal de nada nem ninguém. Avançava cada vez mais rápido e tentava acalmar um pouco a sua revolta. Nesse seu caminho solitário, onde o nada permanecia, ela continuava, quando se deu conta que tinha perdido as roupas e o cabelo.
Então, sorrindo para si própria, deixou de voar e obedecendo à sua primeira reacção, foi descendo muito devagar por cima do mar, afundando-se naquilo que parecia água e, poisando debaixo dela, dizia-se em pensamento:
- Ah, ah, ah… se alguma pessoa me visse agora nesta linda figura, que vergonha!... Ainda bem que neste lugar permaneço incógnita. Pois aqui é complicado alguém me encontrar. Realmente, que constrangimento e que espectáculo mais parvo!... Comentava Alexandra para si mesmo ao rir-se sozinha.
Mas quando, subitamente, deu uns passos em frente reparou que os seus cabelos renasceram e, rapidamente, eles voltaram à normalidade. Então sorrindo mais uma vez, pensou em como tudo seria bem melhor se na vida real houvesse uma possibilidade semelhante…
Ou talvez não, talvez a vida ficasse ainda mais baralhada: a felicidade perderia o seu valor verdadeiro e o ensejo de novas descobertas deixariam de fazer sentido. No fundo, tudo ficaria deveras medíocre e isso traria somente desvantagens, onde tudo seria muito mais complicado. Porque a banalidade traria cada vez mais problemas e dificuldades.
Ela viu que no seu inventário existiam vários acessórios, peças ou símbolos. Alguns deles estavam representados por desenhos, por isso sabia que era roupa, mas outros não. Ia descobrindo pouco a pouco, aliás, como todo o resto…

Matutando nesse problema, a noite passou, mas logo na manhã seguinte, o procedimento foi idêntico, Alexandra, já se sentia atraída pelo seu avatar, Alexpinheiro. Então, sem resistir à sua ansiedade interior, deixou a vontade exprimir-se, o acaso preenchê-la e a novidade comandar... Após ter partilhado esse acontecimento com algumas pessoas, as quais também elas se riram do sucedido. Ela deu-se conta que afinal viveu esse capítulo como se fosse real: sentindo-se envergonhada e desconfortável.
Renasceu novamente no fundo do mar, ainda chegou a pensar na possibilidade de reaparecer vestida, mas... enganou-se. E escondida de qualquer olhar alheio, ali continuava ela e ao mesmo tempo comunicando ao pensamento:
- Não existe nenhuma razão para me sentir envergonhada. Afinal de contas, quem está ali é só mais uma figura no meio de milhares existentes neste mundo ilusório. Apesar de naquela imagem não morar nenhum tipo de sensações, os sentimentos existem sim, mas dentro de cada ser humano que comanda esta ficção…

Alex levantou-se novamente, num pequeno voo e avançou junto à superfície da água do mar. Então viu, um pouquinho mais à frente, algo que sobressaia dessas águas e, lentamente, se mostrava com mais pormenor - uma linda ilha. Cercada de um verde mesclado, devido a algumas folhas já secas e também várias flores cresciam juntando-se ao castanho claro da areia.

Ao chegar a esse lugar, como continuava nua, experimentou “clikar” ou pressionar o dedo em cima de uma tecla. Não sabia exactamente quais as suas funções, mas lembrava vagamente de que funcionava também para se vestir.
Depois de tentar e conseguir assim um dos objectivos desejados, deparou-se com umas cuecas brancas vestidas. Respirou fundo mas verificou que não era o seu bikini cor-de-rosa. Porém, não tinha importância, pelo menos o desconforto já era bem menor…
Avançou sobre a paisagem e em direcção à imagem que se encontrava um pouco mais à frente. O nome que estava escrito por cima do avatar, defronte dela, parecia português e feminino. Então, sem hesitar, Alex fez o primeiro contacto:
- Olá, bons dias! Escreveu ela.
- Bom-dia! Tudo bem? Perguntou a outra pessoa e continuando disse: andas por aí quase nua, pois até tens um peito bonito e estamos na praia. Alexandra sorriu ao ouvir essas palavras, que mais pareciam um elogio dirigido à sua imagem.
- Estou aqui há quase um mês, mas ainda não sei praticamente nada. Além disso ando perdida.
- Ah! Isso é algo perfeitamente normal, acontece com todos nós, os novatos da SL. Não desesperes, vamos aprendendo pouco a pouco. Com calma e paciência tudo se consegue. Agora vou dar-te algumas peças de roupa, assim podes ir mudando.
Alex aceitou e agradeceu as ofertas e trocaram mais algumas palavras de amizade. Reparou, entretanto, que a outra avatar seguiu o seu caminho, desaparecendo da sua visão.

Alegra-te, sempre que encontrares uma barreira no teu caminho, algures existirá uma passagem…

Capítulo VI

Alguns dias após o primeiro contacto, Alex conseguiu vestir umas calças de ganga e uma simples blusa preta, que fazia realçar o seu cabelo cor-de-rosa. Eram algumas das peças que lhe foram oferecidas pelo seu primeiro conhecimento. As restantes roupas continuavam, todavia, invisíveis mas com a indicação de permanecerem no seu “inventário”. Pois, tudo era, ainda, desconhecido, sem saber como usa-las nem vestir-se convenientemente.

Passados dois dias, Alexandra já se sabia vestir e sentia-se contente com esse grande passo. Sim, porque estamos sempre em tempo de aprender, seja qual for o objectivo. O desejo de todo o ser humano é encontrar sempre a novidade: seja para fazer ou desfazer, achar qualidades ou defeitos e, até mesmo, dificuldades e desafios. Mas com a necessidade de descobrir constantemente algo.

- Olá! Leu ela de alguém que escrevia atrás de si, assim que chegou a um sítio acabado de desvendar, pois seguia sempre na direcção dos pequenos pontos verdes, os quais marcavam presença no mini-mapa, pois era sinal de pessoas online.
- Olá! Respondeu Alex sem saber a quem, mas também não era o mais importante.
- Tudo bem contigo? Estou a ver que és portuguesa e novata, espero que te desenrasques bem.
- Faço por isso, obrigada, mas como sabes isso? E tu quem és?
- Também sou português, e vejo isso no teu “profile”, como tu podes ver no meu… mas nem tudo é verdade, qualquer um pode mentir, como sabes.
- Pois, está certo, mas mentir para quê? Acho que não ajuda, é preferível ficar calada, não achas?
- Sim… nunca ganhamos nada com isso, mas ficamos sempre na dúvida, por exemplo, neste momento não sei se estou a falar com uma mulher, ou com um homem?
- Ah, ah, ah e se fosse um rapaz, havia algum problema? Pois eu também fico na dúvida quanto a ti!
- Claro que não, seria igual, ou melhor, parecido, pois estou a gostar desta conversa.
- E eu também, ah! mas por hoje, acho que chega de conversa, porque infelizmente vou ter que sair do programa.
Recorda-se bem que esse foi um dos primeiros conhecimentos portugueses, e lembra-se do que ele lhe disse, antes de trocarem amizades e se despedirem:
- Aqui dentro os muitos contactos que vamos adquirindo também se vão afastando, isto é mesmo assim… tudo vai mudando, por um lado é bom, porque não conheces quem está por trás da máscara, do “avatar” mas ficamos sempre um pouco desiludidos, porque a amizade acaba rápido.

Na terceira tarde, Alexpinheiro continuou a caminhar um pouco mais, partindo do sítio onde fizera o segundo contacto e em direcção a mais um ponto verde, que se fazia notar, mais à frente. Embora não encontrasse, ainda, um motivo forte para continuar com essa aventura, também não tinha nenhuma razão para desistir agora daquela ideia. Por isso, ela continuaria com este desafio, sonho ou exploração, que a levaria a algum lugar... Fosse qual fosse o resultado acabaria sempre por ganhar.
Avançava com a curiosidade à flor da pele, ao saber que descobrira uma nova pessoa nesse espaço. Ficou ainda mais satisfeita quando viu que a imagem que permanecia à sua frente, não era nem mais nem menos que a do seu professor da SL.

- Olá, até que enfim! Exclama ela como se descobrisse uma luz ao fundo do túnel.
- Olha quem ela é!
- Já não era sem tempo encontrar alguém conhecido. Como vai?
- Comigo vai tudo bem. Então e tu? Como vai essa saúde?
- A saúde vai indo... Porém, muito embora eu quisesse que a minha situação clínica estacionasse, infelizmente ela não me obedece, responde Alexandra, dando uma gargalhada.
- Assim é que eu gosto de te ver bem-disposta. Disse-lhe ele com um sorriso.
- Pois que remédio! Faço por isso, o inverso não resolve nada, antes pelo contrário...
- Parece que te estás a integrar aqui dentro, ou será que estou enganado? Sabes que te vejo sempre, cada vez que entras ou sais da SL. Aliás, como vejo todos os outros que tenho adicionados à minha lista de amigos. E estou a gostar de ver...
- Ai é, ainda bem! Com respeito a Alex, parece que está a gostar desta aventura. Quanto a mim, Alexandra, sinto-me, realmente, ainda um pouco sozinha, sem saber como nem o que fazer. Vais ter muito que me ensinar…
- Não digas isso, já sabes umas coisas e, todos os dias, aprenderás algo mais.
- Sim, é verdade: hoje sei mais que ontem e menos que amanhã. Mas é claro que preciso de saber muito mais aqui dentro.
- E eu estou pronto para te ajudar em tudo o que precisares. Basta chamares ou falares-me, sempre que eu estiver “online”. Sei também que tu tens, igualmente, algo para me ensinares. Aliás, todos nós sentimos a necessidade de partilhar e pedir conselhos sobre certas aventuras, nem que seja só para ajudar a encarar melhor esta vida. E tu tens esse dom…
- Fica prometido que te irei chatear muito… Também estarei sempre disponível naquilo em que, casualmente, te possa ajudar. Mas agora vou ter que me recolher… como vês, também tenho horários a cumprir, embora diferentes…
- Pois, e eu fico por aqui mais um pouco…
Alexandra ficara muito satisfeita, depois desse encontro, pois tinha acabado de encontrar mais uma excelente razão, para seguir em frente com este novo objectivo. Com mais confiança em si própria, trocou ainda algumas palavras de amizade com o seu “professor” e amigo da primeira e segunda vida, e despediram-se.

Capítulo VII

Os dias iam passando e Alexandra fazia alguns conhecimentos, sempre que encontrava alguém por perto. Pois já sabia adicioná-los, perfeitamente, à sua lista de amigos. Infelizmente, tudo isso se passou como a tinham avisado, muitos desses nomes já não existiam, fosse porque mudaram de avatar, de nome ou simplesmente desistiam deste programa.
Nos salões de baile que ia descobrindo sozinha ou acompanhada, ela reparava bem, em cada nome ou profile, verificando se eram linguagens que ela conhecia. Metia conversa com eles convidando-os para dançar, sempre que tinha a certeza de que falavam francês. Pois esse era o principal motivo de procurar os nomes dos avatares em línguas que lhe dissessem algo, como o Português e, também, o Francês. Por vezes a sorte sorria-lhe, e assim, Alexpinheiro descobria vários novos amigos, dos quatro cantos do mundo, pois a amizade é feita, unicamente, para partilhar.



A linguagem principal, desse programa era o Inglês, sendo um idioma pouco conhecido por si, falava apenas o suficiente para se desenrasca e fazer novas descobertas. Sem que isso a impedisse de travar certos e rápidos contactos.
O francês, como língua era dominado por si sem dificuldade. Pois, para quem passara a sua adolescência em Paris onde, inclusivamente estudou, não constituía problema algum. Alexandra sentia-se muito mais a vontade e mais segura, porque embora evitasse amizades para além desse programa, SL¬, tudo ficava mais fácil. Sem sentir a obrigação de revelar tal fardo, algo dificilmente aceitável, fosse por si mesma ou pelos outros.

Divertia-se bastante com algumas pessoas, ou melhor avatares, Alex ria-se com muita vontade quando se encontrava no meio de certas situações, um pouco embaraçosas, mas como ainda era principiante, não deixavam de ser engraçadas. Vivia outras, mais apaixonadas, pois evitava recusar, quando a convidavam para dançar ou para um passeio mais romântico recheado de poses de “kiss”. Pois era sempre uma óptima ocasião para conhecer melhor a própria SL e até as pessoas, na realidade, sim porque ali dentro, mesmo só trocando umas conversas banais, já se ficava a conhecer algo mais da pessoa em questão, fosse na maneira de comunicar ou no modo de vestir o avatar, pois tudo era relevante…







Alexandra sentia, um grande interesse em descobrir um pouco mais de cada pessoa, qualquer ser humano, porque embora sejamos todos iguais, cada um tem a sua diferença de ver e sentir.
Conforme os dias passavam, a amizade avançava entre alguns, e de maneira diferente em todos. Mas a curiosidade falava mais alto e ela achava engraçado e interessante ao mesmo tempo que murmurava rindo-se bastante:
- Ao menos aqui podemos aproveitar tudo, ninguém se conhece, nada é contagioso e nem existe o risco de engravidar nem sequer doenças transmissíveis.

No inicio dessa aventura, conheceu uma pessoa, um homem Belga, segundo o que ele lhe disse, simplesmente, porque a dúvida mora connosco. Nic era o seu nome, raramente entrava na SL, mas foi o suficiente para viverem uma breve e bonita relação. Quando Alexandra decidiu contar-lhe a verdade, essa mesma oportunidade evaporou-se, pois ele deixou simplesmente de aparecer. Ficou um pouco triste por ele ter desaparecido tão subitamente mas também aliviada, pois soube que não foi pelo motivo, que ela pensaria caso lhe tivesse contado. Fosse qual fosse a razão, ela unicamente, teria que a aceitar, pois qualquer decisão e em qualquer altura tinha lógica. Às vezes a vida real é insubstituível e, então, sentimos a obrigação de abdicar de todo o restante, algo normalíssimo…













Foi logo a seguir a esse episódio, que Alexandra entrou, nessa segunda vida, com outro avatar, por curiosidade, pois tinha sido desafiada sobre isso mesmo, então, sem resistir cedeu a mais esse desafio. Fora uma nova aventura, algo que não apreciou muito, porque além de nos dar, uma certa de privacidade, nalguns aspectos, também nos obrigava a mentir, ainda mais, era uma segunda personagem nessa segunda vida. Aventurava-se de vez em quando para, unicamente, descobrir novos lugares e amigos.
Evitava mentir, ou então omitia esse facto, pois ninguém era obrigado a dizer o que não quisesse. Mas na maioria das vezes, quando alguém a confrontava com algo, dizia o que pensava, o que sentia e o que achava sobre isso, pois algo que se dizia constantemente, era o ser sincera e quem desgostasse da verdade, paciência.
Todavia, os conhecimentos que ela fazia duravam pouco tempo, terminando logo de seguida. Talvez porque se notava bem que ela era mais uma novata e ninguém estava interessado em desperdiçar o seu precioso tempo com iniciados. Ou simplesmente, evitavam dar-se a conhecer. Mas ela não se importava, porque sabia que a “paciência era amiga da perfeição” e que “devagar se vai ao longe”. Por tudo isso, não havia preocupações... ela estava consciente que as maiorias das pessoas procuravam, esse programa, como uma fuga, onde se escapuliam para uma segunda vida. Por isso, cada um vivia a vida à sua maneira.

“Tudo podemos aperfeiçoar na vida: basta querermos e esforçarmo-nos, fazendo com que isso valha a pena.”

Capítulo VIII

A frescura das noites de Outono, já se fazia notar, especialmente nas madrugadas do fim de Outubro. Na sua segunda vida, também, essa diferença estava bem presente, embora sem se sentir, o frio via-se lindamente. Fosse nessas folhas secas ou murchas, que o vento acariciava e fazia rodopiar das árvores, embaladas pelo mesmo ou nas gotas de chuva, que caíam cada vez mais rápido. Esse foi o mais lindo dos espectáculos, que presenciou até a esse momento, o cair da chuva ouvia-se perfeitamente.

Em muitíssimas ocasiões, Alexandra pensava na necessidade, que todos nós sentimos ou desejamos, aquela, de nos evadirmos ou refugiarmos noutras paragens, onde possamos desfrutar, escapulir ou fugir da rotina diária e, assim, apreciar o que a vida está disposta a oferecer-nos. Ou talvez para aperfeiçoar esta passagem do destino ou, simplesmente, para contemplar as maravilhosas ofertas que o mesmo nos empresta.
Porque embora, esse programa fosse composto unicamente de fantasias, era também interessante. Pelo menos, aparentemente, todos tínhamos o mesmo valor embora diferente. Cada caso é único, mas nem mais nem menos oportuno.

Foi-se apercebendo que não podia voar demasiado alto nem muito -depressa, pois as paisagens, em três dimensões, só se faziam visíveis após alguns segundos. Aliás, era exactamente como todo o restante nessa utopia.
Assim, Alex foi-se aventurando, explorando, e desse modo, encontrou um enorme palácio, no meio do mar, deserto e lindamente construído. Alexandra, depois de carregar na tecla e parar de voar, poisou no pequeno átrio, defronte da grande porta gradeada, que permanecia aberta.
Após dar uns passos em frente e assim, admirar o castelo que fora a sua primeira descoberta “especial”, sentiu-se preenchida pela maravilha encontrada.
O castelo continha quatro torres, uma em cada extremidade e era cercado pelo mar. Dali viam-se, nitidamente, golfinhos a mergulhar e saltitar na calmaria das ondas.
Entrou e sentiu uma grande vontade em descobrir o que nele existia e, desse modo, foi avançando. Após dar alguns passos, deu-se conta que estava no meio de um grande salão. Onde havia bastantes cadeiras e mesas com algumas barras ao centro. Tudo indicava ser um clube de dança, com “strip tease”.
Continuou com coragem e curiosidade em desvendar o que o segundo passo lhe reservava. Após contemplar os vários recantos, para que nada ficasse alheio à sua bisbilhotice, subiu as escadas, em caracol. Estas possuíam um belo corrimão em ferro ou, talvez, madeira, porque nada era real. Mas lá que estava muito bem feito, isso era pura verdade!

Ao cimo das escadas, reparou que existia um corredor com várias portas, algumas das quais permaneciam fechadas. Foi entrando nas que estavam abertas e viu que no meio de cada divisão existia uma cama, coberta por uma bonita colcha branca. No centro de cada uma delas estavam duas bolinhas: uma azul e outra cor-de-rosa, com a inscrição “LOVE”.
Sorriu, imaginando para o que servia e sentiu curiosidade em experimentar. Mas resistiu, pensando que, afinal, teria outras oportunidades. Contemplou apenas o pequeno quarto, que só tinha mais dois quadros, com fotos reais, de raparigas nuas.
Depois de ter entrado em mais alguns quartos, com o mesmo conteúdo, dirigiu-se, lentamente, para as portas que se mantinham fechadas. Após várias tentativas, conseguiu entrar e deparou-se com certos objectos, um pouco, estranhos, como: chicotes, correntes e coleiras. A maioria desses objectos, estavam pregados nas paredes, outros em cima de mesas ou no chão.
Surpreendeu-se ao ver que, mesmo ali dentro, o sadomasoquismo também estava presente.

Alex saiu daquela sala esquisita e repugnante, mas deveras curiosa e caminhou mais um pouco, até ao fundo do corredor e em direcção a uma porta, que permanecia aberta e dava para uma grande varanda com vista para o mar, pois era rodeado pelo mesmo. Nesse espaço havia alguns vasos de flores e plantas coloridas. Mas onde, também, existiam duas bolinhas, por cima da cor-de-rosa estava escrito, kiss F, e da azul, kiss M.

Alexandra sabia que era uma pose para beijo, mas ainda não tinha experimentado, porque apesar dos muitos conhecimentos que tinha adquirido nenhum lhe despertou a atenção devida, para uma relação mais estável. Mas também não tinha pressa em descobrir o que estaria para vir, só o queria viver rapidamente.

Alexandra viu que a noite avançava lentamente nesse programa e presenciou-a. Como era lindo! … Após ter contemplado, mais uma vez, a calmaria do mar e ver o reflexo da lua, cujo brilho já se fazia notar sobre as águas. Pois, lá ao fundo, o sol já se escondia, e alguns pontos brilhantes espreitavam nesse horizonte longínquo mas tão perto. Então achou melhor desistir, pelo menos por esse dia. Porque na vida real, também, chegava a hora de se recolher.
Marcou então o LM “Lemdmark” o seu ponto de referencia naquele sitio e desligou o seu computador.

A vida continuava, dentro e fora dessa utopia, ou sonho, porque embora fosse dirigida pela mesma existência, havia sempre diferentes maneiras de a saborear, comandar e olhar. Alexandra estava consciente do que desejava e esperava dali e inclusivamente do contrário, ou seja, recusar o que pudesse vir a magoa-la, porque, além de se saber demasiado sensível e sentimentalista, era também optimista, curiosa e batalhadora.

“Mesmo que o teu ego, por alguma razão, se sinta perdido, não te entristeças nem penses em desistir seja do que for, pois até as tristezas são saudáveis para a aprendizagem da vida.”

Capítulo IX

Naquilo que parecia areia e sempre à beira mar, Alex caminhava, enquanto aguardava também a chegada do seu amigo. E, dentro dessa utopia, podia ver e ouvir perfeitamente as ondas, que pareciam reais, acariciarem e segredarem com as rochas. Quando, de repente, viu esse nome tão ansiosamente esperado: Rocky Musasky, que era o nome do “avatar” do seu professor.

Depois de ele lhe apresentar mais alguns amigos e colegas e, inclusivamente, a sua mulher da vida real, retirou-se, pois ainda tinha trabalho à sua espera. Mas antes de se ausentar prometeu-lhe uma surpresa para breve. Deixou-a na companhia de Nyne, o nome da representação de sua esposa, a qual convidou Alex a participar numa aula dirigida pela mesma e prestes a começar.
Alexandra recusou simplesmente, porque não era isso o que o seu íntimo esperava. O mais ansiado por si correspondia, apenas, a amizades interessantes e conhecimentos divertidos e saudáveis. Enfim, relações que valessem a pena…
Pelo menos, por agora, o seu interesse consistia em descobrir e aventurar-se em novas sensações. Sim, essa era a razão de recusar qualquer tipo de trabalho.
Não tinha dinheiro, nesse jogo, programa ou segunda vida, mas também não era importante. Sem ser esse o seu objectivo principal, pelo qual se sentiu atraída e se aventurou, era conhecedora, que o dinheiro, também era essencial, lá dentro. Havia pessoas que trabalhavam nesse programa, pois era uma maneira de ganhar dinheiro, mais facilmente. Enquanto outras, faziam exactamente o contrário, porque podiam jogar ou dispensar autênticas quantidades, ou melhor podiam e tentavam viver os luxos que na vida real não tinham. Era um refúgio ou um escape onde o sonho e a realidade se cruzavam diversas vezes.

Voltou novamente para o jardim que melhor conhecia, pois já lhe era um pouco familiar. Sendo grande e estando maravilhosamente bem decorado, ainda possuía muitos esconderijos para descobrir. Mas Alex sentia-se apta para explorar os variadíssimos recantos, os que para ela ainda eram desconhecidos.
Alexandra relembra nitidamente, da primeira “imagem”, do primeiro homem que lhe despertou o interesse, nesse mesmo jardim e alguns dias antes.

No pequeno mapa estavam vários pontinhos verdes, o que queria dizer, que muitas pessoas permaneciam ligadas a esse programa e no mesmo local. Após encaminhar Alex, ou seja, a si própria, para esse sítio… o que era um salão de baile ao ar livre e onde, as bolinhas cor-de-rosa e azul, estavam espalhadas pelo chão. Por cima de algumas dizia, ”slow dance”, outras eram de valsa, tango etc… As que ela experimentou clickar e assim, pôr-se em movimento de dança, mas ela continuava imóvel.
Soube o porquê, quando viu mais pessoas fazerem exactamente o mesmo, mas com a diferença de haver um par. Por essa razão, haviam diversas pessoas a dançar com os passos certos, mas como estavam acompanhadas tudo se tornava mais fácil.

Alexandra viu que perto do sítio onde ela estava, permanecia um homem, sozinho e elegantemente vestido de preto. Ela deduziu que era Francês, pelo nome bem visível sobre a sua cabeça, pois era a sua segunda língua.
Como ela continuava em posição de dança, sozinha e parada, resolveu meter conversa com ele e convidou-o para dançar, dizendo-lhe somente:
- Do you dance? Esperou pela reacção pensando ser positiva!
Como ele continuava sem se mexer, Alex questionou-o novamente, imaginando estar certa:
- Fala francês? Perguntou ela, directamente e um pouco tímida, na sua segunda língua.
- Sim, eu sou! Respondeu ele.
- Ainda bem, pois assim sinto-me mais a vontade, porque falo muito pouco de Inglês. Diz ela suspirando.
- Comigo passa-se a mesma coisa. Respondeu ele, mas continuando a conversa disse: - Já agora, tu és homem ou mulher? Pois eu estou na dúvida, convidas-me para dança mas tens nome de homem, usas calças mas tens cabelo cor-de-rosa!
Alexandra sentiu uma enorme vontade de rir, e riu-se sozinha, ao ouvir esse comentário, o que não deixava de ser verdade.
Sim, porque embora nós estamos presentes, mentalmente, a dúvida permanece.
- Podes ficar tranquilo que quem está a falar contigo não é mais que uma mulher, uma pessoa de carne e osso, que embora seja representada por uma boneca, é humana.
Alexandra sentindo-o mais à vontade, iniciou uma dança, conversaram mais um pouco fazendo-se perguntas, tanto banais como normais. Pois eles estavam curiosos desejando saber, um pouco mais um sobre o outro.
Passaram bastantes minutos, depois de se darem a conhecer, um pouco do lado humano, trocaram os seus contactos. Foi então o princípio de uma grande amizade, ou pelo menos a pessoa mais sociável que Alex conhecera até então.
Chegava a hora em que Alexandra teria que se recolher, ou melhor desligar-se desse programa. Despediram-se então, marcando um novo encontro para a noite do próximo dia ou, talvez, da próxima semana... pois tudo era incerto...

Um caminho pode medir centenas de metros, mas se ninguém o usar desaparece…

Capítulo X

Olhava atentamente as gaivotas que passeavam sobre as águas do mar e ouvia com atenção o chamamento delas que juntamente com o ruído das ondas, cantavam em harmonia. Era um maravilhoso som que combinavam lindamente, entre eles.

- Olá, bom-dia, como vais? Ouviu ela, ou melhor, viu alguém escrever por trás dela. Virou-se e encontrou-se cara a cara, com o seu amigo, Rocky.
- Olá, desculpa, nem te vi chegar. Estava aqui tão absorvida por esta calmaria e beleza.
- Tudo bem, não importa. Vi-te aí tão concentrada nos pensamentos e nesta paisagem, que fiquei na dúvida em falar-te, mas fico contente que gostes deste sítio.
- Estava a pensar em como a vida seria fácil, se fosse assim… Ou talvez fosse um engano! Mas adiante. Que me queres mostrar?
- Queres vir ver a tua futura casa?
- Ah, ah, ah, o quê? Futura casa, achas mesmo que preciso?
- Claro que acho, porque não? Para receberes os amigos, para se divertirem e conversarem da vida, por exemplo.
- Qual delas? Pergunta Alexandra rindo mas também interessada.
- Tu sabes tão bem quanto eu, que a vida é só uma. Por isso, tens que a aproveitar.
- É verdade, estou a brincar, desculpa. Temos que gozar ao máximo cada oportunidade que nos é mostrada. Vamos lá ver essa maravilha, pois agora fiquei curiosa.
- Ah! Sempre estás interessada? Vamos lá então.
Depois de caminharem um pouco mais, nessa areia, pararam defronte da capela, onde existiam três casas idênticas, ao lado de um lindo chafariz e árvores floridas. Convidou-a a entrar numa delas e ela deu-se conta que ficou no meio de uma grande divisão completamente deserta.
- Aqui tens a tua casa, anda ver a parte de cima.
Alex seguiu-o. Após passarem a única porta de entrada subiram as escadas situadas na parte de fora da casa e que levavam ao andar de cima. Era uma outra divisão mais pequena mas com uma varanda virada para o Oceano.
- Gostas? Perguntou-lhe ele.
- Claro que sim! Um sítio lindo, com uma casa óptima só para mim, como sempre sonhei. Mas não te posso pagar, embora eu saiba que aqui se joga com dinheiro real, ainda não sei lidar com esse facto e não tenho cheta. Além da casa estar deserta, também não sei como fazer os móveis.
- Mas ninguém te pediu nada, pois não? Além disso, fui eu que a construí para ta oferecer e chamo já o nosso decorador. Assim podes escolher a mobília à tua vontade.
- Oh! Muito obrigada. Mas não era preciso, porque raramente vou parar em casa, pois o meu interesse, por agora, consiste unicamente em explorar o programa.

Dois segundos depois, apareceu o decorador. Rocky apresentou-os e despediu-se, pois como sempre o trabalho esperava-o.
JRMA era o nome do jovem construtor, que lhe mostrou diversas fotos de mobílias de quarto, para ela ter a oportunidade de escolher. Logo após esse primeiro passo, ele colocou a mobília no devido lugar. Era um quarto de casal, com uma grande cama, como Alexandra sempre ambicionou. E, para completar, colocou mais um pequeno sofá, com o padrão igual ao da colcha da cama. Alexandra contemplava todos os passos que ele dava e tentava desvendar ou perceber o segredo desse trabalho. Mas era impossível, pois via unicamente o resultado, sem ter a noção de como fora feito.
- Então que me dizes, gostas? Clicka na bola em cima da cama e deita-te, para experimentar a posição. Ela assim fez, era uma postura de simples relaxamento.
- Claro que gosto, ficou tudo óptimo!
- Pronta para continuar? Perguntou-lhe ele certo de que fizera um bom trabalho.
- Sim, vamos ao andar de baixo.
Depois de descerem as escadas e entrarem no salão deserto, JRMA começou a colocar diversas mesas e cadeiras, das quais ela escolheu as preferidas. Ao lado, foram colocados mais uns sofás vermelhos e um quadro abstracto e o salão ficou completo.
- Anda cá fora ver o toque final, uma oferta.
- Sim, que lindo… disse Alex após chegar à porta e contemplar o cadeirão que estava perto do chafariz.
Conversaram um pouco mais sobre eles, trocando seus contactos e despediram-se como amigos que já eram.

Alex regressou para dentro de casa. Primeiro experimentou sentar-se num dos sofás da sala e comentou consigo própria: Ficou tudo muito bonito, sem dúvida, mas para que quero eu uma casa aqui? Dizia-se ela, admirada mas também curiosa. Bom, vamos ver o que virá a seguir!
Depois de subir as escadas e entrar no seu quarto da “SL”. Olhou para a porta da varanda, que continuava aberta e depois para a cama com a posição de deitada. Desejou estender-se pela segunda vez, e assim fez, até parecia que esperava algo...
Quando se deu conta que Nyne, a sua amiga, lhe falava em IM. Então Alex contou-lhe a agradável novidade e deu-lhe “TP”. Estava pois, muito desejosa de lhe mostrar a casa. Assim que Nyne chegou ao destino, confessou-lhe:
- Muito bem, mas eu já sabia. Estás contente?
- Claro que sim! Adorei, mas estão habituar-me mal e depois, se eu ficar viciada? Ah, ah, ah.
- Ah, ah viciada em quê, em fazer amigos?
- É verdade, só vicia o que é demasiado e descontrolado, e eu ainda me considero estável.
- Sabes que também tenho uma surpresa, ora aprecia!
Alexandra apercebeu-se que ela colocava algo na parede do quarto, por cima da cómoda. Mas quando acabou a tarefa virou-se para Alex e perguntou-lhe:
- Que dizes desta minha surpresa, gostas?
- A minha primeira foto na SL, que giro…
Ela lembrava-se perfeitamente desse episódio. Já havia quase dois meses, na segunda vida, fora a primeira foto, no primeiro passeio e com o primeiro amigo, além de Rocky, e inclusivamente, no primeiro dia nessa aventura.

Mais uma tarde se passou e, no dia seguinte, estando Alex estendida na sua cadeira de baloiço, defronte da porta. Quando por cima dela viu algo, colorido, que voava e se recolhia na gaiola presa ao muro de sua casa. Alexandra ficou pasmada com o que acabara de ver, um lindo passarinho…
- Olá, menina… gostas-te? Viu ela escrito em IM, claro que só podia ser o seu amigo e professor da SL.
- Adorei… que fofinho…
- Então ainda bem… eh, eh.
- Ai, ai… estás habituar-me bem demais e depois vicio-me, graças a vocês, ah, ah, ah.
- Vicias-te em quê? Só se for em amizades. Era a segunda pessoa a dizer-lhe a mesma coisa.
- Pois, mas é o que dizem… e eu quero evitar misturar as duas vidas, porque embora seja a mesma, a divergência existe e nós temos que saber distingui-las.
- Deixa lá, que se formos a ver, aparecem por aí muitas coisas piores e que viciam ao máximo.
- É verdade, ah, ah, ah o saber-se controlar e aceitar a diferença é o mais importante e, se todos os vícios fossem iguais a este... nada mal… Dizia ela.

Entre o passado e o futuro, existe um intervalo, para ser preenchido…

Capítulo XI

Encontrava-se com JRMA, diversas vezes dançavam, conversavam e passeavam. Onde ele lhe mostrou algumas lojas feitas por ele, tal como o recheio, fossem móveis ou objectos de decoração, onde ela comprou umas velas e almofadas, para decorar a casa. Pois foi aprendendo a pousar os objectos nos devidos lugares, aliás, todos os dias aprendia ou conhecia algo.
Embora no primeiro dia, eles trocassem a ideia de ficarem namorados, essa ideia evaporou-se, pouco depois. Alexandra veio a saber que ele não tinha mais que dezoito anos, e ela recusava-se a alimentar qualquer tipo de esperança, ainda mais agora. Sem que essa relação fosse impossível, ela dizia-se que JRMA poderia ser seu filho. Desse modo a amizade entre eles foi se mantendo, pois todos os conhecimentos são para dividir.



Alex gostava de adormecer, sempre que possível, e acordar no seu quarto da SL. Para ela era como se já fizesse parte de um conto de fadas, no qual, estava conscientemente inserida. Porque embora soubesse que tudo isso não passa de uma ilusão ou sonho, também, faz parte da vida.
Alexandra, nas poucas aulas em que participou com a sua amiga e instrutora Nyne, fez vários conhecimentos, onde a maioria era de pessoas portuguesas. Durante a meia hora em que durava a aprendizagem, algumas limitavam-se a falar o essencial. Muitas ouviam simplesmente as explicações, da professora, para observarem e construírem, como se de um desafio real se tratasse. Poucas adicionavam-na como amiga, mas sem darem tempo suficiente para a amizade amadurecer.
Alexandra evitava mentir e, por esse motivo, sentia um afastamento perante a sua pessoa. Embora sem ter a certeza se era essa a verdadeira razão, sentia-se, contudo, ignorada e claro que o seu pensamento ia logo de encontro à sua situação física. Porém, não era esse facto que a ia deter. Ela dizia-se constantemente: - Quem não me aceitar como sou, é porque não merece a minha amizade, nem o meu respeito...













Foi exactamente por esse motivo que se sentiu obrigada a dizer a verdade, sobre o seu problema, a M. Alcot. Pois queria ser justa, apesar do receio da sua reacção. Embora ela tivesse a coragem e a força, ao ser sincera, não esperava outra coisa, além de uma grande e profunda amizade. Sabia e não queria misturar a vida real da virtual, porque embora fosse a mesma, existiam sempre algumas diferenças reais sobressaindo.
Alex recorda-se que, no dia seguinte, ao conhecimento do próprio M. Alcot, verificou a sua lista de amigos, na esperança de ver o nome do seu último contacto, online, mas enganou-se. M. Alcot, o nome da sua representação era pouco provável estar ligado, sabia que ainda estava no horário de trabalho “real”.
Viu que alguns contactos, da sua lista permaneciam ligados, mas não aquele que ela mais ansiava. Depois de conversar, um pouco, em “IM”, com a pessoa que tinha mais confiança, aventurou-se em mais uma descoberta de um lindo jardim.
As referências, ou bolas, com as mais variadas posições de dança permaneciam por lá espalhadas, por entre as maravilhosas flores de todas as cores. Também, no meio das árvores, existiam as tais posições de “kiss”.
Alexandra sorriu, ao lembrar-se do homem que conhecera uns dias antes, pois gostaria que fosse com ele o seu primeiro beijo, dentro dessa segunda vida. Fora a primeira pessoa que despertou a sua curiosidade, aquele, que lhe tocou no coração.
Foi também ao pensar nele, para ficar mais bonita, que se dedicou a escolher uma nova pele, para o seu avatar. Rocky levou-a a uma loja virtual, onde ela pôde escolher à vontade. Realmente, ela sentia-se muito mais bonita, até maquilhagem continha.

Passaram-se oito dias, desde que eles se conheceram, e ela sentia o carinho sincero e a amizade duradoura, entre eles, a qual florescia, dia após dia. Essa foi a principal razão de Alex lhe confessar a realidade e assim o fez. Mas ela ficou deveras feliz quando, no dia seguinte, ele se mostrou admirado, fazendo realçar ainda mais a sua surpresa e respeito. Foi dele que recebeu a primeira rosa e o primeiro presente, um simples fio com uma cruz.
Os primeiros dias foram simplesmente maravilhosos, como num conto de fadas ou sonho, onde a alegria os unia. Sempre que possível, aproveitavam o tempo e então, dançavam, passeavam ou simplesmente saboreavam os minutos para se juntarem num beijo e conversarem sobre eles, na realidade.
Pouco a pouco, Alexandra foi-se apercebendo, vendo e sentindo um afastamento, perante ele. Notou que esta relação estava a arrefecer, mas também não esperava o contrário, pois evitava misturas e conhecia o seu lugar. “ Até aqui dentro nos fazem sentir humilhadas, é tal e qual como na vida real, mas é claro, vida há só uma”, dizia-se ela constantemente.
Foi a sua primeira desilusão amorosa, na segunda vida, o seu primeiro desencanto, sim pois era ela quem mais sofreria, com toda esta situação. Lembrava-se perfeitamente bem, como se ainda fosse ontem, daquilo que o seu amigo Rocky lhe disse logo no inicio desta aventura:
-Toma cuidado contigo, não te apaixones, pois as aventuras aqui dentro são muito intensas.
O que não deixava de ter lógica, pois a pessoa é a mesma e os sentimentos também.
- Acho que já estou preparada para tudo, mais magoada do que estou, é impossível. Além disso, se quase ninguém se conhece, na realidade… acho pouco provável, tal acontecer. Respondeu Alexandra segura de si.
- Olha que não é tão fácil como, a maioria das pessoas pensa… nem nenhum brinquedo…
- Deixa lá, também, quem é que me queria como relíquia? Eu só me quero divertir...

A verdade é que se enganou, embora tivesse o conhecimento e a sabedoria suficiente para diferenciar a realidade da ficção esse passo doera-lhe bastante. E fora a principal razão de evitar procurá-lo, por mais que ele lhe dissesse que os seus sentimentos não mudaram, Alex sentia que sim. Raramente se viam, após tal episódio, porque embora estivesse preparada para enfrentar o que viria, nunca nada era igual, nenhuma situação era idêntica. Mas ela só tinha que aceitar a escolha de cada um, pois nunca esperaria outra coisa, embora os sentimentos fossem os mesmos, a maneira de os sentir e demonstrar variavam constantemente.
Com esse pensamento optimista, Alexandra prosseguiu na busca de novas aventuras! Um pouco desgostosa continuou, no caminho que lhe estava destinado. Visitava os jardins, alguns que já conhecia, outros que ia descobrindo, e pouco a pouco, iam mudando, fosse de nome, de paisagem, de estrutura ou aspecto.
Foi conversando e encontrando-se mais amiúde, com alguns dos conhecimentos que já tinha e, inclusivamente, com outros que ia fazendo. Dançava bastante, pois era o seu passatempo favorito, além de conversar, um pouco sobre tudo.
Alexandra estava interessada em desvendar algo mais. E nos contactos que fazia achava sempre alguma coisa de diferente na maneira de dizer ou fazer as coisas, pois ninguém é igual. Conversou com diversas pessoas, mais amiúde, e viu o quanto eram diferentes, cada uma continha o seu próprio modo de encarar, esses momentos e de os viver, à sua maneira.
Ria-se sozinha, diversas vezes, pois vivia certas aventuras cómicas e agradáveis.

Capítulo XII

A frescura dessas tardes de Outono fixava-se cada vez com mais força e, Alexandra lançou-se novamente, em mais uma aventura, com a certeza de descobrir um pouco mais, desse programa, SL. Pois todos os dias se aprende alguma novidade, e para quem, como ela, não sabia absolutamente nada, já aprendera bastante, mais do que ela própria pensaria vir a saber.
Aventurou-se, um pouco mais, nos poucos locais que já tinha adicionado aos seus “landmarks”. Mas, o sítio que mais gostou até ao momento, fora esse mesmo, aquele onde estava presentemente, a simples e completa imitação da praia de Vila Nova de Gaia.
No programa era a “SIM” perfeita, ou melhor, a foto exacta dessa praia, com algumas casas e, por cima das rochas beijadas pelo mar estava exposta a pequena capela, simples e deserta. Esse lugar era habitado pela calmaria e embalado pela paz, onde só se ouviam os sussurros do mar com as pedras na areia, as carícias do vento e o cântico suave dos passarinhos.
Foi no segundo mês dessa aventura que ela teve conhecimento de algo bastante duvidoso. Chamava-se ”Jean Claude” apesar de ser natural da Republica Scheco falava lindamente francês, o que era o principal. Foi exactamente por esse motivo, nome, que Alex meteu conversa. Dois dias depois do seu conhecimento, ele lhe disse:
- Estas a ver aquele avatar?
- Sim, é uma mulher, ou pelo menos parece, ah, ah.
- Pois é a minha…
- Ah, desconhecia que eras casado. Responde ela, imediatamente, sem o deixar terminar.
- Ah, ah, ah, nada disso…
- Ah, assustaste-me…
- É a minha segunda representação.
- Como, assim!?
- Sou solteiro, acredita…
- Acredito, mas não percebo…
- Seja na realidade ou aqui dentro, por isso tenho mais que um avatar!
- Andas à procura de noiva?
- Mais ao menos… mais de um amor verdadeiro…
- Como é que isso é possível?
- Depois explico-te.

E foi assim, que Alexandra compreendeu a possibilidade de aceder a esse programa, com outra representação. Com a ajuda dele e por curiosidade, também entrou na SL com outro avatar, claro que fez outros conhecimentos e descobriu novas paisagens e lugares. Mas Alexandra, sem ficar atraída, por essa outra possibilidade, dizia-se que era uma terceira vivência, na sua segunda vida, seria mais uma existência de mentiras. Só possível para quem tem bastante tempo disponível, ou também para quem gosta de se ocultar, fantasiar e até mesmo bisbilhotar.

Foi através dele que ficou duvidosa, em dar o seu contacto real, principalmente a ele, muito embora, Jean Claude lhe quisesse enviar uma prenda, como dizia:
- Sabes que gosto muito de ti e gostaria de me encontrar contigo na realidade!
- Acredito, mas evito misturar a vida real com a vida virtual, embora saiba que quem está por detrás de qualquer avatar, seja unicamente, a mesma pessoa.
- Não exijo já resposta! Tens tempo para pensar!
Mas, Alexpinheiro evitava dizer-lhe algo, quer seja a verdade, sobre si, ou a mentira. Depois de pensar bastante, resolveu dizer-lhe a verdade, talvez fosse a decisão exacta, para ela testar ate onde ia a certeza dele.

Um dia, enquanto visitavam um castelo, deveras esquisito, sentiu o medo apoderar-se dela, fazendo a dúvida crescer ainda mais. Enquanto entravam em diversas divisões, repugnantes e com fotos de mulheres nuas e ensanguentadas, ele dizia:
- Sabes, que foi neste castelo, que desapareceram pelo menos duas raparigas?
- O quê?
- Sim, uma francesa e outra alemã.
- Mas estas a falar da SL?
- Não, na realidade! Desconfia-se que foram assassinadas em cenas masoquistas, como estas.
- Que horror…
- É verdade!
- Custa-me acreditar, porque essa possibilidade só é válida se existir uma direcção verdadeira!
- Pois, mas aqui dentro existe um pouco de tudo e para todos os gostos.
- É preciso ter cuidado… mesmo aqui…
Alexandra ficou ainda mais receosa, em dar-lhe o seu contacto, pelo menos para já.
Mas poucos dias após esse episódio, Jean Claude, foi-se afastando, desse modo ela teve a confirmação O perigo mora em todos os lugares e o que tiver que ser, será…

O Inverno estava a chegar na vida real e na SL também. O Natal chegaria dentro de alguns dias e os enfeites já eram visíveis por toda a parte. Alexandra gostava de passear nos jardins cobertos de branco e ver as bolas de neve, que caíam constantemente sobre as árvores, flores e chão. Achou graça quando, pela primeira vez, viu uma borboleta, depois outras que a seguiam e voavam debaixo dos farrapos de neve.

Achou graça, quando o seu professor lhe perguntou se estava interessada em conhecer uma maternidade ou uma clínica de fertilização.
- Mas é claro que quero ver! Deve ser bastante engraçado e até interessante.
Um segundo depois, ele deu-lhe “TP” e ela encontrou-se defronte dele. Depois de visitarem essa clínica, que ela apreciou, pois estava muito bem feita e com todas as particularidades, eles riram-se, admirando e discutindo os pormenores.
- Tu já viste bem todos os detalhes disto? Comentou ele. Repara nas fotos da sequência da gravidez do avatar!
- Sim, que giro! Nota-se mesmo a evolução do feto…
- Realmente, faz-se cada coisa aqui dentro, ainda não tinha encontrado algo tão idêntico.
- Ah, ah, ah! Sabes o que agora me lembrei?
- Então, não é coisa boa!
- Eh, eh, eh! Se calhar já estou grávida e sem saber! Diz ela, ao rir-se com vontade.
- Aí é? Tu lá sabes o que andas a fazer!
- Pois e queres ser o padrinho?
- Lá terá que ser, não é? Ah, ah…
- Isso quer dizer que aceitas! Ah…
- E o pai onde está?
- Serei mãe solteira. É possível?
- Claro que é, mas pensa melhor… é complicado. Ah, ah!
- Quer ter um filho, aqui, já que na realidade não tive.
- Criar um filho é uma grande responsabilidade. Ah, ah, ah…
- Imagino, mas na SL, acho que vai ser giro. E eu quero viver essa experiência…

Capítulo XIII

Alexandra estava decidida a engravidar, queria viver um pouco dessa experiência. Mas sem saber como, nem o que fazer dentro desse programa, achou preferível pedir conselhos e explicações a Nyne. Pois além de ser uma óptima amiga, tinha a prática e sabedoria necessárias.
- Ah, com que então queres gerar um filho!
- Pois, é verdade. Vai ser giro!
- Ah, ah, ah! E o pai, quem é?
- Não existe, serei mãe solteira. Já que nunca tive nenhum na vida real, vou tentar aqui, deve ser engraçado.
- Quanto a mim, é exactamente o contrário. Na realidade tive três filhotes e aqui não sei…
- Então vamos a isso! Eu serei a mãe e tu serás o pai, diz Alex ao rir-se com vontade.
- Ah, ah, ah! Vai ser giro, vai. Digo-te que desconheço isto mas, já agora, estou curiosa em desvendar este mistério...
- Que devo fazer para começar?
- Só sei que o primeiro passo consiste em comprar a barriga, depois verei…Vou informar-me melhor.
- Comprar? Pois, essa é que é a complicação… Não tenho dinheiro nem sei como onde o conseguir, por isso paciência, esquece… Respondeu Alexandra um pouco desiludida.
- Não, não vais desistir agora, estás proibida, além disso quero ver essa gravidez evoluir, isso não é problema, podes contar comigo seja para o que for.
- Está bem, obrigada amiga, e posso saber quando é que me vais engravidar? Pergunta Alexandra mais animada.
- Pois, ah, ah… quando for aí, claro, nós vamos comprar a barriga para o avatar, juntas.
Assim se cumpriu o acordo desejado: compraram juntamente a barriga na clínica e Alex ficou grávida. Durante a primeira semana, a gravidez não se notava, aliás como era normal... Somente as pequenas mensagens apareciam, de vez em quando, a informar o desenvolvimento do feto e a dizer o que deveria fazer. Lembra-se bem que passado mais alguns dias e, por casualidade, ela deixou de receber qualquer sinal ela perdeu a barriga de grávida, pois, então preocupadíssima e logo após presenciar a chegada da sua conselheira disse.

- Nyne, ajuda-me… Acho que abortei espontaneamente! Exclamou à sua amiga, em IM, logo que a viu entrar.
- Ah… o quê? Como arranjas-te isso?
- Não sei… só mudei de roupa, nada mais…
- Pronto, já sei… foi ao tirares a roupa, também tiraste a barriga, tens que fazer cuidado quando trocares de roupa.
- Mas não toquei em mais nada! Como é que isto aconteceu?
- Sabes que vestes a barriga como se fosse uma peça de roupa… e por isso quando mudares de roupa, ao tirares a que tens vestida, se clikares na barriga também a despes.
- Ah, ah, ah… então foi isso…
- Pois, só pode eh, eh.
- E eu a pensar que tinha abortado… ah, ah, ah.
- E abortaste… na “SL”, claro.
- E agora, que faço? Vou ter que comprar outra, ou posso reutilizar a mesma?
- Agora, temos que recomeçar… podes-me dar a tua palavra passe, se o preferires, e eu entro com o teu avatar e assim vejo qual a melhor solução!
- Sim claro, sempre é mais fácil!

Assim se passou o prometido, e uma semana depois Alexpinheiro estava novamente grávida.
Todas as semanas, durante dois meses, teve de mudar de barriga, pois, era o tempo necessário para decorrer a gravidez, nessa segunda vida. Cada semana aumentava um pouquinho de tamanho até parecia verdadeira. Comprou alguns vestidos de grávida, os quais, estavam optimamente bem-feitos, e sentia-se orgulhosa por ser a primeira avatar portuguesa a gerar um filho. Alex dizia-se contente, segura de si e vaidosa com aquela barriguinha de gravidez desejada. Sem ter que fazer, praticamente, nada de especial, ela continuava com a tarefa de desvendar mais novidades.
De vez em quando, aparecia-lhe uma mensagem, que dizia ser necessário descansar, facto que achava engraçado porque passeava e então fazia o que lhe mandavam, sentando-se. Outras vezes, a mensagem dizia para beber água e para comer, pois o corpo tinha a sensação de fome ou estava desidratado, precisando refrescar e concerteza, cedia, pois tinha as soluções para isso no seu inventário. Achava graça às semelhanças com a realidade.

Mas duas tardes depois, quando Alex clickou no “LM” local de sua casa, para a visitar novamente. Deparou-se apenas com o sítio, ela simplesmente tinha deixado de existir. Talvez, porque, raramente a visitava, agora tinha menos tempo, mas ainda bem, pois, sentia-se mais preenchida, com os conhecimentos que ia adquirindo, sejam as pessoas ou os belos lugares.
Continuava no mesmo lugar a pequena capela, por cima das rochas baloiçadas pelo mar. Algo que lhe indicava que era realmente aquele sitio, mas as casas tinham desaparecido.
- Já não tenho casa… Comunicou Alex a Nyne, um pouco tristonha, assim que a viu entrar.
- É verdade… mas deixa lá que não és a única, todas se foram até a minha, que era um pouco distante.
Sim, ela lembrava-se perfeitamente onde ficava, era um modelo parecido, ao seu, onde tinha estado, uma vez, juntamente com alguns amigos, comuns.
- Mas porquê? Não é justo! Dizia ela inconformada.
- Pois, mas isto é assim, precisavam do espaço para reconstruírem algo novo, compreendes?
- Sim, paciência…
- Mas deixa lá que vamos arranjar-te outra casa.
- Não vale a pena, também, para as vezes que a utilizo!
- Claro que vale e, então, agora que vais ser mamã…
- Eu arranjei um amigo que tem casa, aqui na SL, e deu-me ordem de me servir dela sempre que precisar, claro…
- Ai é, esse felizardo é português?
- Não, é francês… eh, eh, eh…
- Claro só podia, eh, eh! E vai ser o futuro papá?
- Pois, e tenho mais dois candidatos!
- Eh lá, três pais para um bebé que ainda não nasceu?
- Eh, eh… isso tudo, já viste bem, par quem não tinha nenhum… agora tenho por onde escolher…
- Sim, sim, estou a ver, desenrascaste-te bem eh, eh …
- Saí cá uma galdéria! No bom sentido ah, ah, ah.
- Pois ah, ah.
Foi uma conversa que começou com uma decepção mas acabou com uma grande alegria.

Nesta vida tudo faz sentido…
O preço da alegria tem muito mais valor quando existem tristezas…
A felicidade só é realizável se for a paga da decepção…
Por isso não desesperes, pois o teu dia chegara.

Capítulo XIV

Lembra-se perfeitamente, da terceira semana de gravidez, momento em que foi novamente a Paris, na SL, claro. Foi com um amigo que tinha conhecido uns dias antes e que morava nessa cidade, na vida real, disse-lhe ele.
Depois de entrarem no “Moulin rouge”, lugar que ela desconhecia na realidade, onde beberam uns copos e dançaram, subiram ao cimo da “Tour Eiffel” e saltaram de pára-quedas.
- Ah, ah, ah, que giro, expressava-se ela ao rir-se com vontade e logo após a aterragem.
- E tu gostas, mamã doida! Eh, eh, eh, não sentes medo? Comentava o seu amigo, Combi, na brincadeira.
- Claro que gosto, e além disso, ter medo de quê? Ah ah ah, já viste alguma grávida saltar de pára-quedas, do cimo da Tour Eiffel? Vai ficar para a história!

E ficou sim, pois foi uma recordação única, divertida e bonita, porque além de “Combi”, o nome do seu avatar, ser alguém de carácter afectuoso, interessante e bom amigo era também, uma pessoa complicada, aliás, tinha os seus problemas, como toda a gente. Por vezes as dificuldades reais misturam-se em tudo e envolvem-se cada vez mais, nesta vida fascinante, coisa normalíssima, pois a vida é a mesma.
Lembra-se que foi ele quem lhe ofereceu a primeira caixa, com um belo conjunto de jóias, incluindo um colar de pérolas e uns brincos. Algo que era ainda desconhecido por ela, pois sabia comprar e aceitar, mas não abrir.
- Arrastas para o chão e abres, fácil. Dizia-lhe ele.
- Pois, tudo é fácil para quem sabe… Respondeu Alexandra, ao rir-se bastante e sozinha, para conseguir descobrir esse mistério… Claro que cada problema tem a sua dúvida, dificuldade e até a própria maneira de lidar com cada situação.
Alexandra lembra que, por três vezes, Combi deixou de lhe falar, por razões banais, mas ela sem se conformar com esse facto, tentava sempre remediar a situação. Simplesmente porque achava injusto acabar com uma amizade tão bonita e tão louca, no bom sentido, à toa. A verdade é que tudo acaba, mais tarde ou mais cedo, ficam unicamente as melhores recordações presas na memória. Porque embora, sem serem vividas ao máximo, no momento adequado e oportuno, foram aproveitados com toda a energia, intensidade e amor do momento. A relação, entre Alex e Combi, durou bastantes meses, mesmo depois do nascimento do bebé. Onde ele dizia, na brincadeira claro, que era o pai.

Várias vezes pensava: Como seria possível, todo este conjunto estar tão belo e idêntico ao real. Por vezes revoltava-se com tal facto porque, afinal, conseguiam fazer parecer reais, algumas sensações e emoções, fosse nas paisagens ou nas pessoas, mas para o seu problema de saúde, nada!... A sua doença continuava a piorar lentamente e isso era injusto. Era difícil, sentir-se obrigada a aceitar esta situação mas não via outra alternativa.
Alexandra fazia esta comparação, embora soubesse que eram situações um pouco diferentes, mas parecidas e que faziam parte da mesma existência. Era exactamente como a primeira e segunda vida, embora fossem a mesma. Pois tudo tinha a sua lógica e a própria verdade, mas inclusive a sua dúvida, fosse na vida real ou nesta utopia, onde tudo era permitido, coisas que pensava ser impossível, afinal ali tudo era possível.


Recorda-se também que na quarta semana de gravidez, Alex fez o conhecimento de duas pessoas, as quais e pelo nome, só podiam falar francês. Bertrand e Michel, os que convidou para dançar, como era seu costume, em bailes e alturas diferentes.
- Voulez vous danser avec moi? Pergunta Alex directamente ao primeiro. Só que entretanto viu uma mulher que se aproximou dele e dançaram juntos. Então, sem esperar resposta e sentindo-se um pouco embaraçada, saiu dali.
- Porque foste embora? Perguntou-lhe ele em “IM”
- Desculpa, é que eu convidei-te para dançar, mas desconhecia que já estavas acompanhado!
- Sim, por agora estou com par, uma pessoa que também acabei de conhecer, por isso não posso ir ter contigo, mas nada impede de ficarmos amigos, não achas?
- Claro que sim, podemos ficar amigos!... Respondeu Alex mais satisfeita.
- Então, marcamos encontro para amanhã? Perguntou ele depois de trocarem os seus contactos.
- Prometido… despediu-se Alexandra.
E assim aconteceu…

Entrega as decepções e tristezas ao passado, porque o presente só quer viver os agradáveis momentos que vêem do futuro.

Capítulo XV

Foi a dançar com Bertrand que Alexpinheiro passou a meia-noite do dia trinta e um de Dezembro do ano 2007 para o dia um de Janeiro de 2008, ou melhor, a passagem de ano. A que, devido à diferença de horário, sendo de uma hora na vida real, e como era Suiço, esse detalhe era bem visível, ou seja, como era noite de festa, a diferença notava-se perfeitamente, pois existiam poucas pessoas conectadas nesse programa.
Vinte e três horas portuguesas, ainda tinha tempo de dançar e conversar mais um pouco com ele, a seguir iria brindar ao novo ano, com alguns amigos.

Alexandra ia-se encontrando também, com Michel, nas poucas vezes que ele se conectava e quando as oportunidades, entre os dois, surgiam. Alex lembra-se perfeitamente da tarde em que o conheceu, foi num jardim repleto de neve ou, melhor, nas nuvens onde as bolas com as várias posições de dança, ali permaneciam. Sendo um sitio maravilhoso e indefinido estava muito bem feito com uma música suave, árvores de luz, uma pista de gelo, onde patinaram juntos, até havia cavalos e um arco-íris.
Foi depois de avistar o nome, o qual deveria ser francês, que Alex lhe perguntou, directamente nessa língua, se queria dançar, ao que ele respondeu:
- Gostaria sim, mas estou à espera de uma pessoa que deve estar a chegar. Desculpa.
- Está bem, mas enquanto esperas, podes vir dançar? Prometo que te solto, quando ela chegar! Diz Alex achando-se um pouco atrevida mas contente pela sinceridade que ele transmitiu.
- Ah, ah, ah, se é assim, porque não?
Desse modo, envolveram-se numa dança e numa agradável conversa trocando seus contactos. Mas essa encantadora troca de palavras durou muito pouco tempo, ele despediu-se de Alexpinheiro, desaparecendo de seguida.


Alexandra conheceu, também, nessa época uma pessoa italiana, “Ilária” nome do seu avatar, sem ser muito comum, nesse programa, fazer amizades com mulheres, ela gostou muito de a conhecer. Além de ser alguém da mesma idade tinha um grande coração. Lembra-se ainda da noite em que a conheceu:
- Quero-te apresentar uma pessoa especial, acho que vais gostar dela. Disse-lhe o seu amigo Rocky.
- Sim, eu estou sempre disponível para fazer novas amizades. Por isso quando puderes, é só dizeres.
- Então combinado, logo assim que ela estiver online e disponível, eu chamo-te.

E assim Rocky apresentou-as. Sendo Ilaria italiana e falando bem inglês e francês, e Alexpinheiro portuguesa, mas falando francês, por essa razão, comunicavam nessa língua, pois facilitava a comunicação entre as duas.
- Eu sei que escreves, por isso, e como já li uns poemas teus, os quais gostei, queria fazer-te uma proposta.
- Claro… podes perguntar o que quiseres, eu estou disposta a tudo, ou quase, ah, ah, ah.
- Ah, ah, ah, está bem, então aqui vai… gostarias de escrever para crianças?
- Eu? Para te ser sincera sempre sonhei com isso, mas é difícil, ainda mais neste país, que só se interessa pela quantidade sem dar valor ao que vem do coração.
- Eu passo a explicar-te… estou encarregada de um hospital de crianças necessitadas, e como mandei pintar os muros, desse hospital com ilustrações, desenhadas por pintores profissionais, gostaria de fazer pequenas histórias, também, mas como eu não tenho jeito, para escrever, nem encontrei, ainda, ninguém interessado em fazer isso, pensei em ti…
- Obrigada por pensares em mim, deve ser giro… que pena, ainda não teres conseguido…
- Pois é! Queria tanto fazer isto para as crianças... Será que posso contar contigo, que me dizes?
- Eu pessoalmente, digo-te que sim, vou adorar, mas quanto ao resto… vai ser complicado…
- O resto, não te preocupes, deixa comigo! Eu sei como fazer, podes escrever em francês que eu traduzo.
- Então, óptimo, está bem, vou já começar a procurar ideias e fazer o meu melhor!
- O principal foi tu concordares com esta minha proposta.
- Claro que concordo… além de ficar muito orgulhosa de escrever para crianças, quero também aproveitar esta oportunidade que me ofereces!
- Agradeço-te por teres dito que sim!
- E eu digo-te obrigada por acreditares em mim!
- Claro que acredito em tudo o que vem do coração! E acho que o teu é grande e valioso.
- Obrigada! Mas acho que o teu também é… respondeu Alexandra emocionada e com uma lágrima a querer mostrar-se, no canto do olho.
- Vai valer a pena…
- Então, vamos a isso, acho que não te vais arrepender por me dares a tua confiança.

Alexandra ficou tão feliz com mais esta nova oportunidade que se dedicou logo à procura de ideias para as pequenas histórias. E assim, no espaço de um mês já tinha escrito, quatro pequenos contos, os quais lhe enviou por correio electrónico. Também já tinha pensado no título do livro que sendo para crianças estava perfeito “Uma história para cada dia da semana.”
Achava a situação, em que se encontrava, deveras engraçada e bonita, pois estava grávida, na “Second Life”, e ao mesmo tempo, escrevia para crianças reais, na primeira vida.

Muitas vezes, ficamos tão absorvidas com os grandes acontecimentos, que nos esquecemos do que é essencial…

Capítulo XVI

A manhã do dia vinte e dois de Março chegou, pois já estávamos na Primavera e sabendo que o dia do parto estava aí, Nyne e Alex dirigiram-se para a maternidade. Por esse motivo as mensagens a dizer, que as águas rebentaram e as contracções estavam bem presentes, apareciam constantemente. Alexpinheiro, limitava-se a seguir e a fazer, tudo, o que Nyne lhe dissesse, pois era ela quem tinha mais prática, dentro desse programa.
Lembra-se que logo que entraram na maternidade, uma enfermeira as conduziu directamente para a sala de exames, verificando se tudo estava em ordem. De seguida, mandou-a deitar numa cama que se encontrava na sala ao lado e junto de uma piscina. Sempre com Nyne como tradutora e conselheira.
- Ela diz para te deitares e descontraíres.
- Ah, ah, ah sim, eu estou relaxada! Dizia Alexandra ao rir-se desta situação toda.
- Ainda bem, porque eu estou um pouco nervosa!
- Ah, ah, ah, não me digas, eu é que vou dar à luz e quem está nervosa és tu?
- É verdade, eh, eh!
Chegava também a hora dela ir almoçar, na vida real, e sem saber o que fazer Alex pergunta a Nyne:
- E agora, vou ter que interromper o parto por alguns minutos ah, ah, ah, preciso de cumprir o horário, e depois tenho que ir comer para ganhar forças?
- Está bem, não te preocupes, podes ir almoçar à vontade, eles também precisam de um tempo para construírem a futura imagem do bebé eh, eh, eh.

Passada meia hora, Alexandra estava de volta, com a mesma boa disposição. Nessa altura chegou também a médica, ou a parteira, perguntou-lhe se estava nervosa, ao qual respondeu negativamente e até que se sentia mais forte. Mandou-a ir, então, para a pequena piscina, e viu que Nyne vestia o bikini, acompanhando-a para dentro da água. Nessa altura, deu conta que Bertrand falava com ela em IM, depois de lhe contar o que se estava a passar, ele perguntou-lhe se lhe podia fazer companhia neste momento tão interessante. Alex depois de pedir autorização deu-lhe TP e uns segundos após Bertrand estava junto delas.
Nyne chamou, também, mais algumas pessoas, que nunca tinham assistido a algo parecido, nem tão semelhante à realidade, e entre elas encontrava-se Ilaria que admirava essa peça.
- Tens dores? Descontrai um pouco e respira… dizia-lhe Nyne, dentro da piscina.
- Ai, ai… uf, uf… Uhm, Alexandra tentava fazer, parecer, com que fosse o mais real possível

















- Respira, expira, mais um bocadinho… força…
- Ai, ai… ah, ah, ah… sai daí… comentava Alexandra ao rir-se enquanto ouvia alguns comentários engraçados, pois Nyne tinha ligado o IM do grupo, onde todos podiam conversar.
- Que se passa? Dizia uma.
- Quem é o pai? Perguntava outra.
- É a Nyne. Responde Alex, achando este episódio deveras cómico e interessante.
- Ai, ai, ah…
- Pronto já está cá fora. Diz Nyne, alguns minutos depois, ao mesmo tempo que Alex vê a parteira tirar um bonequinho, sendo o seu bebé, debaixo da água, parecendo sair dentro dela.
- Uf que alivio! Até que enfim…
- Ah que lindo! Ouviu ela.
- Pronto, parabéns…
- Já está! Que trabalheira!...
- Tira a barriga e vai para a cama, descansar!
- Sim, vou já… Reclama Alex, pouco depois levantou-se da piscina e fez o que lhe mandaram.














- Gostei imenso de ter participado, obrigado por me teres deixado assistir. Dizia-lhe Bertrand, no quarto e depois das restantes pessoas se retirarem.
- Não tens que agradecer, eu também gostei que estivesses ao meu lado, ainda bem que pudeste vir.
- Sabes que me sinto orgulhoso em ser o pai, pois sou o único que aqui estou e depois, portas-te tão bem, até parecia real. Comentava ele deitando-se na cama ao seu lado.
- Realmente, está tudo tão bem feito, muito parecido ao real… Comenta Alexandra, revivendo o que passou.
Assim aconteceu nessa tarde, o parto de Alex correu lindamente, até melhor, mais interessante e mais engraçado do que ela estava à espera.

Passado algum tempo, Nyne chegou trazendo a novidade, o bebé estava pronto e precisava de um nome, pois tinha que ser registado, então perguntou-lhes que nome lhe desejava pôr.
Alex, sem ter nenhuma ideia e ao ser apanhada de surpresa, disse ao “suposto pai” Bertrand.
- Ah e agora? Eu nem sequer me lembrei desse pormenor… fica sem nome…
- Podes escolher, estás ainda em tempo!
- Sei lá… Dá-me uma ideia! Depois de pensar um pouco, ele deu a sua opinião.
- Que tal Manuela? Sugeriu Bertrand, sabendo à partida que era uma menina.
- Sim, porque não? Manuela Pinheiro! É bonito e, além disso, é um nome bem português.

Capítulo XVII

Na tarde do dia seguinte, depois de jantar e de se conectar, Alexandra comentou com Nyne, depois de a ver entrar, sobre tudo o que passaram na tarde anterior e memorável dentro desse programa. Como tudo parecia tão igual à primeira vida, talvez até, mais assistido, com mais conforto e mais comodidades, enfim… melhores adaptações…
- Se na vida real fosse assim, seria óptimo… mas infelizmente… eu que o diga sofri bastante no parto…
- Pois, então é que era só fazer filhos, ah, ah, ah ao menos aqui é muito mais fácil…
Quando repentinamente, Michel entra no programa, metendo logo conversa com ela pediu-lhe para lhe contar como tinha corrido e deu-lhe TP para um salão de baile num lindo barco. Era a cópia perfeita do Titanic, em três dimensões.
Alexandra contou-lhe tudo, o que viveu nessa linda aventura, ele mostrava-se interessado em ouvir e ela estava a gostar de partilhar esse episódio. Quando de repente ele lhe disse que a sua “amiga” ou melhor, namorada da “SL” acabava de entrar no programa e insistia em chamá-lo.

Alexpinheiro sentiu-se rejeitada, triste e decepcionada, mas ao mesmo tempo concordou com ele, para ir ao seu encontro, pois ele sempre lhe fora sincero. Sim, porque embora não quisesse misturar as duas vidas, ambas provinham da mesma, nascente. Recorda-se bem do que lhe disse, em IM, tinha ficado bastante magoada, ou antes, os ciúmes começavam a mostrar-se, embora ela recusasse este facto.
- Deixei os meus amigos para vir ter contigo, e agora tu deixas-me sozinha! Não é justo.
- Desculpa, mas estou com ela já há bastantes meses e além disso tinha marcado encontro. Detesto mentir, pois não te queria deixar mas sinto-me obrigado de ir ao seu encontro.
- Está bem, faz o que quiseres, até me podes apagar da tua lista de amigos, assim ficas tranquilo, não me vês mais…
- Não, eu não vou fazer isso, tu serás sempre minha amiga, se tu concordares, claro, e sempre que me queiras ver… ao dizer isto, ele desapareceu de junto dela…
- Como preferires… eu vou desligar… então, até qualquer dia… despediu-se ela, com uma lágrima a fazer-se notar.
Pensativa e tristonha desligou o computador, sem querer que os sentimentos da sua segunda vida passassem para a primeira, dizia-se constantemente: se vida só existe uma e pessoa é a mesma¬, então as emoções seriam exactamente iguais.
Furiosa consigo própria, sem querer reconhecer essa razão, a de agir dessa forma, ela recusava-se a aceitar essas sensações, que lhe trariam ainda mais sofrimento. Mas ao mesmo tempo sabia estar certa do pensar: porque só o que é verdadeiramente sentido, o que é belo e nos toca o coração, vale a pena. Alexandra dizia-se, convicta da verdade, que esses toques por vezes magoam, e unicamente por nos marcarem, eles permanecem em nós.

No dia seguinte, depois de ter reflectido bastante sobre toda essa conversa, ela chegou à conclusão de ter exagerado nas palavras e deixado o orgulho falar mais alto. Ela que se dizia querer evitar ao máximo, a transferência de sentimentos, entre as duas vidas... afinal, estava a agir ao contrário! Embora a diferença existisse, vida há só uma dizia Alexandra.
Assim, resolveu escrever-lhe uma mensagem pedindo-lhe desculpa pelo sucedido, e onde dizia que se recusava a perder uma pessoa tão especial quanto ele. Tudo isto, por causa de uma atitude, demasiado pateta, pois era a última das razões, aquela que poderia pôr fim a uma bela amizade, o que ela recusava.
- Deixei-me conquistar pelo teu coração, por essas simples e lindas palavras e pela tua sinceridade. Desculpa-me se te ofendi mas não volta a acontecer.
- Sabes que eu também gosto muito de conversar e estar contigo, mas para além de dispor de pouco tempo para entrar na “SL”, tenho uma pessoa com quem passo a maior parte do tempo.
- Eu sei e respeito isso, também tenho as minhas amizades, mas quero continuar a ver-te.
- Claro que sim, eu igualmente e sempre que possível, sabes que me considero prisioneiro desta minha vida real, e por vezes sinto a necessidade de me refugiar dentro deste sonho. Por isso eu evito ao máximo qualquer tipo de complicações e mentiras, só desejo viver momentos felizes, algo que raramente encontro, nesta vida, e acho que é o maior desejo de todos nós.
Quando ele acabou essa conversa, Alexandra sentiu vontade de lhe revelar a verdade sobre si, o seu problema de saúde, de como também se sentia prisioneira, do seu corpo, e de como ansiava viver essa segunda vida. Mas conteve-se, pois recusava misturar essa amargura, nas duas vivências.
- Compreendo muito bem, pois eu também me sinto prisioneira deste destino, que não é nada fácil, embora as nossas situações sejam diferentes, porque a vida nunca é igual para ninguém, mas também semelhantes, pois procuramos sempre o lado melhor da vida, ou o que nos ajuda a preenchê-la.
- Sim, e eu encontro aqui o meu refúgio, aquele que me dá forças para enfrentar o dia-a-dia.
Alexandra ficou, mais uma vez, com a certeza desse benefício, o que esse programa poderia trazer, essa forma de comunicação só ajudaria a encontrar, ainda mais, o descobrimento da vida, bastava conseguir e saber avaliar as diferenças.

Capítulo XVIIII

Desse modo, Alexandra e Michel, continuaram a encontrar-se, dentro dessa segunda vida e cada vez que essa oportunidade surgia. Dançavam juntos e conversavam sempre que possível, e foi assim, num desses momentos que decidiu revelar-lhe a verdade, sobre o seu estado de saúde. O medo que ela sentiu ao contar-lhe esse problema foi também o que lhe deu coragem, de prosseguir, pois tinha receio de perder mais um amigo, mas devia-lhe isso, porque ele também fora sincero com ela e depois seria o que tivesse que ser... Quando ele ficou sabedor, da novidade, disse-lhe que em nada mudariam os sentimentos que os unia e que a verdadeira amizade, unicamente, se sente...

Levou-a para conhecer a casa que ele tinha construído, dentro da SL.
- Que linda… está tão bem feita! Dizia Alex ao sentar-se na varanda, num grande cadeirão que lá permanecia, e ao contemplar a casa, com a imitação de pedra mármore.
- Obrigado, fico contente que tenhas gostado, e podes vir cá sempre que queiras, pois está quase sempre deserta.
- Obrigada, pela autorização, mas para vir aqui sozinha… é chato, é preferível vir contigo.
- Como queiras, mas anda ver o resto.
- Sim vamos…
Depois de passar a porta da varanda e entrar na divisão, onde permanecia uma cama, sendo a única mobília, ela viu que duas paredes eram transparentes.
- Está muito bem feito… com as paredes em vidro…
- Como podes apreciar, esse vidro é opaco, ou seja daqui para fora vê-se mas não ao contrário.
- Óptimo, fica tudo mais íntimo…
- Claro, Vamos descer.
As escadas, situadas ao lado da cama, levavam ao patamar de baixo, que devia ser o salão, onde existia um simples sofá e uma mesinha redonda.
- Foste tu que construíste isto? Muito bem!
- Só algumas coisas. Como já te tinha dito, por vezes entro neste universo para me refugiar da rotina. E assim, divirto-me ao tentar desvendar alguns dos segredos aqui existentes, por exemplo: de como tudo se constrói, de como se colocam os objectos e de como se usufrui cada parcela, enfim… um pouco de tudo, além do meu trabalho real fazer parte do mesmo ramo, a informática, e me facilite esse problema, gosto de descobrir o que ainda não sei.
- Eu sou exactamente ao contrário, não me sinto atraída pelo desejo ou pela necessidade de construir, embora sejamos obrigados, aqui dentro, em saberemos o essencial. Acho que o mais importante é a comunicação entre as pessoas, mas também me considero um pouco como tu, a nível de curiosidade e descobrir.
- Claro… nesse ponto, também estou de acordo contigo… o mais importante é a convivência…
- Pois é, basta observares que eu é que meti conversa contigo e te convidei para dançar, ah ah ah…´
- É verdade… ah ah ah…
Conversaram mais um pouco e Alexandra viu que chegava a hora de se recolher.
- Adorei falar contigo mas… tenho que ir, a vida real chama-me ah ah ah, até amanhã.
E assim se despediram até ao dia seguinte.

Alexandra, depois de se conectar, após uma noite mais tranquila, viu que acordara, exactamente, no mesmo sítio onde tinha deixado o seu “avatar”, na noite anterior, algo perfeitamente normal... Era o salão da casa de Michel, quase deserto, depois de verificar novamente a divisão, matutando algo, ela subiu, desceu, saiu e entrou várias vezes, quando decidiu fazer-lhe uma surpresa.
Foi então, escolhendo e poisando alguns objectos que ela continha no seu inventário, e os quais lhe tinham sido oferecidos, pois eram copiáveis, ou seja podiam dar-se continuamente.
Reparou que o salão ficou mais acolhedor, depois de ter colocado três quadros de paisagens simples, em preto e branco, nos muros vazios, e um vaso de rosas coloridas, em cima da mesinha. Ainda bem que teve a ajuda de Nyne, para conseguir mexer neles... mesmo em IM, a ajuda foi importante... pois todos os dias se aprende algo novo...

Olhou novamente, agora mais satisfeita, para a obra acabada de fazer, e subiu as escadas que levavam à divisão da parte de cima, o quarto. Esse continha somente a cama, onde, Alex colocou mais um quadro colorido e com anjos, na parede, por cima da mesma. Com mais um anjo de flores com corações, assim ficou a casa mais composta. Alexandra gostou de avançar mais esse paço, positivo, e perante essa novidade, perguntava-se constantemente: E se ele não gostar? Pois fiz tudo isso sem ordem dele e em casa dele... mas também, posso rapidamente, desfazer o que fiz...
Assim, antes de partir em mais uma aventura, deixou-lhe a seguinte mensagem: Eu sei que abusei da tua confiança, por isso, desculpa e se não gostares ou não quiseres, essa decoração, diz que eu tiro, desculpa uma vez mas só te queria fazer uma boa surpresa.
Nesse fim de tarde, logo que ele entrou Alex iniciou conversa.
- Olá boa tarde.
- Olá, estou a ver que estiveste entretida...
- Sim... e qual é a tua opinião?
- Uhmm... ainda não vi tudo...
Uns segundos depois Alexandra continuou:
- Se achares preferível eu desfazer, basta dizeres... porque, eu unicamente queria dar um ar mais alegre a essa casa...
- E conseguiste... porque está realmente mais acolhedor.
- Ainda bem que gostaste...
- Claro, com este toque feminino fica logo com outro aspecto, muito mais bonito e cheio de cor.
- Obrigada... mas gostei muito de fazer isso...
- Eu é que tenho que agradecer, pois deste um pouco mais de vida à minha casa.
- Não tens nada, gostei muito de conhecer a tua obra...
Alexandra respirou fundo, mais aliviada, e trocou com ele mais algumas palavras de amizade despedindo-se em seguida.

O dia três de Abril chegou, era o seu quadragésimo segundo aniversário, na vida real. Rocky insistiu com ela para concordar em festejar esse acontecimento, na Second Life, mas ela rejeitou essa ideia, simplesmente, porque recusava relembrar-se que mais um ano, nessa situação indesejada, passava por ela…
Embora ela soubesse que infelizmente existem problemas piores e tivesse plena consciência, de que apesar de tudo não se encontrava assim tão mal... Ou talvez sim, a sua lucidez pode ser a causa do seu maior sofrimento…
Nessa noite, depois de conversar, sobre esse episódio, com Michel, ela gostou de o ouvir dizer:
- Oh, parabéns... apetece-me fazer-te uma surpresa.
- Obrigada... mas não vale a pena...
- Claro que vale, espera um pouco…
Passado meia hora, ele regressou, para casa e onde ela estava, dizendo-lhe para vestir o que acabava de lhe oferecer pois desejava leva-la a dançar...
Ela assim fez, era um lindo vestido lilás, com um grande e belo decote, sem costas e pelos pés com luvas e dois folhos, um sobreposto ao outro. Alexandra já não tinha pressa em desligar o computador nem em cumprir o horário habitual, porque, uma amiga, lhe tinha oferecido, uma “Net Móbil”. Por isso era possível conectar-se estando na cama, algo que a facilitava bastante.
Foram então dançar num grande salão, de um lindo castelo, com o chão transparente, arranjos de flores coloridos e pares de bolas "azuis e cor-de-rosa" com diversas danças.
Foram duas horas inesquecíveis, onde Alex se sentia uma princesa num conto de fadas…

Quando a voz do teu instinto, te chamar… segue-a, pois vai valer a pena…