maio 10, 2011

Capítulo VIII

A frescura das noites de Outono, já se fazia notar, especialmente nas madrugadas do fim de Outubro. Na sua segunda vida, também, essa diferença estava bem presente, embora sem se sentir, o frio via-se lindamente. Fosse nessas folhas secas ou murchas, que o vento acariciava e fazia rodopiar das árvores, embaladas pelo mesmo ou nas gotas de chuva, que caíam cada vez mais rápido. Esse foi o mais lindo dos espectáculos, que presenciou até a esse momento, o cair da chuva ouvia-se perfeitamente.

Em muitíssimas ocasiões, Alexandra pensava na necessidade, que todos nós sentimos ou desejamos, aquela, de nos evadirmos ou refugiarmos noutras paragens, onde possamos desfrutar, escapulir ou fugir da rotina diária e, assim, apreciar o que a vida está disposta a oferecer-nos. Ou talvez para aperfeiçoar esta passagem do destino ou, simplesmente, para contemplar as maravilhosas ofertas que o mesmo nos empresta.
Porque embora, esse programa fosse composto unicamente de fantasias, era também interessante. Pelo menos, aparentemente, todos tínhamos o mesmo valor embora diferente. Cada caso é único, mas nem mais nem menos oportuno.

Foi-se apercebendo que não podia voar demasiado alto nem muito -depressa, pois as paisagens, em três dimensões, só se faziam visíveis após alguns segundos. Aliás, era exactamente como todo o restante nessa utopia.
Assim, Alex foi-se aventurando, explorando, e desse modo, encontrou um enorme palácio, no meio do mar, deserto e lindamente construído. Alexandra, depois de carregar na tecla e parar de voar, poisou no pequeno átrio, defronte da grande porta gradeada, que permanecia aberta.
Após dar uns passos em frente e assim, admirar o castelo que fora a sua primeira descoberta “especial”, sentiu-se preenchida pela maravilha encontrada.
O castelo continha quatro torres, uma em cada extremidade e era cercado pelo mar. Dali viam-se, nitidamente, golfinhos a mergulhar e saltitar na calmaria das ondas.
Entrou e sentiu uma grande vontade em descobrir o que nele existia e, desse modo, foi avançando. Após dar alguns passos, deu-se conta que estava no meio de um grande salão. Onde havia bastantes cadeiras e mesas com algumas barras ao centro. Tudo indicava ser um clube de dança, com “strip tease”.
Continuou com coragem e curiosidade em desvendar o que o segundo passo lhe reservava. Após contemplar os vários recantos, para que nada ficasse alheio à sua bisbilhotice, subiu as escadas, em caracol. Estas possuíam um belo corrimão em ferro ou, talvez, madeira, porque nada era real. Mas lá que estava muito bem feito, isso era pura verdade!

Ao cimo das escadas, reparou que existia um corredor com várias portas, algumas das quais permaneciam fechadas. Foi entrando nas que estavam abertas e viu que no meio de cada divisão existia uma cama, coberta por uma bonita colcha branca. No centro de cada uma delas estavam duas bolinhas: uma azul e outra cor-de-rosa, com a inscrição “LOVE”.
Sorriu, imaginando para o que servia e sentiu curiosidade em experimentar. Mas resistiu, pensando que, afinal, teria outras oportunidades. Contemplou apenas o pequeno quarto, que só tinha mais dois quadros, com fotos reais, de raparigas nuas.
Depois de ter entrado em mais alguns quartos, com o mesmo conteúdo, dirigiu-se, lentamente, para as portas que se mantinham fechadas. Após várias tentativas, conseguiu entrar e deparou-se com certos objectos, um pouco, estranhos, como: chicotes, correntes e coleiras. A maioria desses objectos, estavam pregados nas paredes, outros em cima de mesas ou no chão.
Surpreendeu-se ao ver que, mesmo ali dentro, o sadomasoquismo também estava presente.

Alex saiu daquela sala esquisita e repugnante, mas deveras curiosa e caminhou mais um pouco, até ao fundo do corredor e em direcção a uma porta, que permanecia aberta e dava para uma grande varanda com vista para o mar, pois era rodeado pelo mesmo. Nesse espaço havia alguns vasos de flores e plantas coloridas. Mas onde, também, existiam duas bolinhas, por cima da cor-de-rosa estava escrito, kiss F, e da azul, kiss M.

Alexandra sabia que era uma pose para beijo, mas ainda não tinha experimentado, porque apesar dos muitos conhecimentos que tinha adquirido nenhum lhe despertou a atenção devida, para uma relação mais estável. Mas também não tinha pressa em descobrir o que estaria para vir, só o queria viver rapidamente.

Alexandra viu que a noite avançava lentamente nesse programa e presenciou-a. Como era lindo! … Após ter contemplado, mais uma vez, a calmaria do mar e ver o reflexo da lua, cujo brilho já se fazia notar sobre as águas. Pois, lá ao fundo, o sol já se escondia, e alguns pontos brilhantes espreitavam nesse horizonte longínquo mas tão perto. Então achou melhor desistir, pelo menos por esse dia. Porque na vida real, também, chegava a hora de se recolher.
Marcou então o LM “Lemdmark” o seu ponto de referencia naquele sitio e desligou o seu computador.

A vida continuava, dentro e fora dessa utopia, ou sonho, porque embora fosse dirigida pela mesma existência, havia sempre diferentes maneiras de a saborear, comandar e olhar. Alexandra estava consciente do que desejava e esperava dali e inclusivamente do contrário, ou seja, recusar o que pudesse vir a magoa-la, porque, além de se saber demasiado sensível e sentimentalista, era também optimista, curiosa e batalhadora.

“Mesmo que o teu ego, por alguma razão, se sinta perdido, não te entristeças nem penses em desistir seja do que for, pois até as tristezas são saudáveis para a aprendizagem da vida.”

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