maio 10, 2011

Capítulo XVII

Na tarde do dia seguinte, depois de jantar e de se conectar, Alexandra comentou com Nyne, depois de a ver entrar, sobre tudo o que passaram na tarde anterior e memorável dentro desse programa. Como tudo parecia tão igual à primeira vida, talvez até, mais assistido, com mais conforto e mais comodidades, enfim… melhores adaptações…
- Se na vida real fosse assim, seria óptimo… mas infelizmente… eu que o diga sofri bastante no parto…
- Pois, então é que era só fazer filhos, ah, ah, ah ao menos aqui é muito mais fácil…
Quando repentinamente, Michel entra no programa, metendo logo conversa com ela pediu-lhe para lhe contar como tinha corrido e deu-lhe TP para um salão de baile num lindo barco. Era a cópia perfeita do Titanic, em três dimensões.
Alexandra contou-lhe tudo, o que viveu nessa linda aventura, ele mostrava-se interessado em ouvir e ela estava a gostar de partilhar esse episódio. Quando de repente ele lhe disse que a sua “amiga” ou melhor, namorada da “SL” acabava de entrar no programa e insistia em chamá-lo.

Alexpinheiro sentiu-se rejeitada, triste e decepcionada, mas ao mesmo tempo concordou com ele, para ir ao seu encontro, pois ele sempre lhe fora sincero. Sim, porque embora não quisesse misturar as duas vidas, ambas provinham da mesma, nascente. Recorda-se bem do que lhe disse, em IM, tinha ficado bastante magoada, ou antes, os ciúmes começavam a mostrar-se, embora ela recusasse este facto.
- Deixei os meus amigos para vir ter contigo, e agora tu deixas-me sozinha! Não é justo.
- Desculpa, mas estou com ela já há bastantes meses e além disso tinha marcado encontro. Detesto mentir, pois não te queria deixar mas sinto-me obrigado de ir ao seu encontro.
- Está bem, faz o que quiseres, até me podes apagar da tua lista de amigos, assim ficas tranquilo, não me vês mais…
- Não, eu não vou fazer isso, tu serás sempre minha amiga, se tu concordares, claro, e sempre que me queiras ver… ao dizer isto, ele desapareceu de junto dela…
- Como preferires… eu vou desligar… então, até qualquer dia… despediu-se ela, com uma lágrima a fazer-se notar.
Pensativa e tristonha desligou o computador, sem querer que os sentimentos da sua segunda vida passassem para a primeira, dizia-se constantemente: se vida só existe uma e pessoa é a mesma¬, então as emoções seriam exactamente iguais.
Furiosa consigo própria, sem querer reconhecer essa razão, a de agir dessa forma, ela recusava-se a aceitar essas sensações, que lhe trariam ainda mais sofrimento. Mas ao mesmo tempo sabia estar certa do pensar: porque só o que é verdadeiramente sentido, o que é belo e nos toca o coração, vale a pena. Alexandra dizia-se, convicta da verdade, que esses toques por vezes magoam, e unicamente por nos marcarem, eles permanecem em nós.

No dia seguinte, depois de ter reflectido bastante sobre toda essa conversa, ela chegou à conclusão de ter exagerado nas palavras e deixado o orgulho falar mais alto. Ela que se dizia querer evitar ao máximo, a transferência de sentimentos, entre as duas vidas... afinal, estava a agir ao contrário! Embora a diferença existisse, vida há só uma dizia Alexandra.
Assim, resolveu escrever-lhe uma mensagem pedindo-lhe desculpa pelo sucedido, e onde dizia que se recusava a perder uma pessoa tão especial quanto ele. Tudo isto, por causa de uma atitude, demasiado pateta, pois era a última das razões, aquela que poderia pôr fim a uma bela amizade, o que ela recusava.
- Deixei-me conquistar pelo teu coração, por essas simples e lindas palavras e pela tua sinceridade. Desculpa-me se te ofendi mas não volta a acontecer.
- Sabes que eu também gosto muito de conversar e estar contigo, mas para além de dispor de pouco tempo para entrar na “SL”, tenho uma pessoa com quem passo a maior parte do tempo.
- Eu sei e respeito isso, também tenho as minhas amizades, mas quero continuar a ver-te.
- Claro que sim, eu igualmente e sempre que possível, sabes que me considero prisioneiro desta minha vida real, e por vezes sinto a necessidade de me refugiar dentro deste sonho. Por isso eu evito ao máximo qualquer tipo de complicações e mentiras, só desejo viver momentos felizes, algo que raramente encontro, nesta vida, e acho que é o maior desejo de todos nós.
Quando ele acabou essa conversa, Alexandra sentiu vontade de lhe revelar a verdade sobre si, o seu problema de saúde, de como também se sentia prisioneira, do seu corpo, e de como ansiava viver essa segunda vida. Mas conteve-se, pois recusava misturar essa amargura, nas duas vivências.
- Compreendo muito bem, pois eu também me sinto prisioneira deste destino, que não é nada fácil, embora as nossas situações sejam diferentes, porque a vida nunca é igual para ninguém, mas também semelhantes, pois procuramos sempre o lado melhor da vida, ou o que nos ajuda a preenchê-la.
- Sim, e eu encontro aqui o meu refúgio, aquele que me dá forças para enfrentar o dia-a-dia.
Alexandra ficou, mais uma vez, com a certeza desse benefício, o que esse programa poderia trazer, essa forma de comunicação só ajudaria a encontrar, ainda mais, o descobrimento da vida, bastava conseguir e saber avaliar as diferenças.

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